sábado, 19 de dezembro de 2009
Desculpe, foi engano.
Na noite anterior eu sai e cheguei em casa às 5h. Acordei às 8h. Passei o dia com sono e trabalhei muito. Lá pelas 20h, resolvi deitar e tirar uma soneca, antes de sair de novo. Minha irmã estava na cozinha. Tocou o telefone e ela atendeu:
- Alô? Não, não senhora. Este não é o número correto, não tem ninguém com este nome aqui. Isso. Aham. Tudo bem. Tchau.
Dez segundos depois:
- Alô? Não, a senhora ligou errado de novo. É. Não, não é da casa dela. De nada. Tchau.
Menos de um minuto mais tarde o telefone toca de novo.
- Ahhhh.... Eu não vou atender! - esbravejou minha irmã.
Então eu levantei com a voz séria e atendi:
- Funerária, boa noite!
- Crendios pai! - responderam do outro lado da linha.
- Alô? Posso ajudá-la?
Desligaram e eu enfim poderia dormir tranquila.
A história poderia terminar aqui. Porém, a pessoa não desistiu. Ela demorou uns três minutos para tomar coragem e ligou de novo.
- Funerária 24 horas, boa noite! Em que posso ajudá-la?
Ela pensou, demorou e disse:
- Olha só, aqui é a Joana do Guto. Este número não pode ser da funerária. Você está brincando comigo, né?
- Minha senhora, este telefone é da funerária 24 horas. Estamos nele há mais de 6 meses. A senhora está muito nervosa, eu posso ajudá-la? Quem foi que morreu? Já entrou em contato com o IML?
- Crendios pai! Eu tenho este telefone aqui que é da minha vizinha.
- Senhora, este número que você tem está errado. Este é o telefone da funerária 24 horas. Prestamos assistência à família, temos caixões, organizamos a missa e tudo o que for necessário para o enterro. A senhora precisa de algum dos nossos serviços?
- Não. Mas este telefone era da minha vizinha.
- ...
- Então ta bom.
- Agora a senhora já tem o nosso telefone, precisando, é só ligar.
Ela não ligou mais e eu também não dormi, pois a crise de riso depois que deixei de lado a voz de atendente de funerária me tiraram o sono. Ligar para um número e passar trote pode ser divertido, mas passar trote em quem liga não tem preço.
“Pura maldade e falta de paciência”, alguns dirão. Porém, o telefone desta casa é incrível. Pelo menos uma vez por dia ligam errado. Tem um tal de Agostinho que deve para as Pernambucanas e eles ligam direto para cobrar. Não acreditam que a linha não é mais dele. Outro dia foi uma senhora da Legião da Boa Vontade que passou 10 minutos fazendo com que eu me sentisse egoísta até que eu disse para ela que boa vontade eu tenho, só não tenho dinheiro. Trocando o 4 pelo 6 o meu número seria da loja Romeira e é incrível a capacidade das pessoas de confundir dois números tão diferentes.
Já estou pensando em fazer uma gravação, uma música do padre Zezinho no fundo e eu falando:
- Você ligou para a funerária 24 horas. Para escolher o modelo do caixão, tecle 1. Para encomendar uma coroa de flores, tecle 2. Para contratar uma carpideira para chorar no velório, tecle 3. Para informar término de mortadela para os sanduíches dos parentes que vieram de longe, tecle 4. Para informar a ressurreição do morto, tecle 5. Para falar com um de nossos atendentes, tecle 6.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
A viagem das letras
Já era mais de meia noite. O pouco movimento na rodoviária - cena de tantos crimes - me assustava um pouco. Talvez até mais do que eu imaginava, pois qualquer aproximação me deixava alerta.
Uma moça de vestido preto e sapatos azuis como os que eu gostaria de ter aguardava ansiosamente a chegada de alguém. Ela andava de um lado para o outro, mostrando o bom gosto para quem quisesse ver. As unhas pintadas de vermelho demonstravam a sua personalidade forte. Por um momento eu quis ser aquela pessoa.
Um moço bonito perdeu o seu charme limpando o nariz.
De forma improvável, um cabeludo, barbudo, sorriso largo e fala mole me acalmou. Ele fazia o estilo que assustava criancinha, mas eu, com mais cinco minutos, talvez saísse apaixonada. “Eu escrevo poesia”, disse ele, entregando-me um livreto home made. Aquele charme de poeta alternativo... Xerocado, seis folhas de um certo bom gosto pelas palavras que me envolveu. Cortado à régua, o papel estava arrepiado nas pontas. “Pode ler à vontade”. Eu li e devolvi.
Mochila nas costas, fazia o tipo hippie que sempre se aproxima de mim. Ninguém nunca viu um hippie dar presente. Mas eu tenho um presente de hippie. Eles gostam de mim. “Eles não têm preço fixo. A gente está tentando inteirar o dinheiro da passagem, sabe como é...”. Dei-lhe um real que eu gastaria num café, mas economizei porque o local onde o compraria já estava fechado. Os versos desviaram a atenção da política que eu estava lendo e afrouxei um pouco a mordida - mania feia que eu não consigo evitar quando estou tensa. Ele se foi e eu fiquei com os versos soltos de um poeta que passou rapidamente.
"Quando falava o que penso
Me chavamam de louco
Quando fiquei calado
Reclamavam do silêncio
Hoje minto o que sinto
E me chamam de poeta"
Carlos Taepo
Fui ao banheiro. Uma moça perdeu o ônibus e precisava de quatro reais para comprar outro bilhete e garantir a viagem. Parecia sincera. Dei-lhe os quarenta centavos que tinha e depois fiquei pensando de deveria ter dado o restante. Coloquei-me em seu lugar e por um momento minha consciência pesou, pensando na citação bíblica que há muito não ouvia: “Não dê o que te sobra, mas o que o outro precisa”. Se assim for, talvez aqueles quarenta centavos tenham sido uma parte da prestação da minha passagem para o inferno. Não a vi mais e logo o peso passou. Talvez ela tenha conseguido o dinheiro. Se era sincera, pode ser que estivesse chorando em algum canto. Se fosse esperta, talvez estivesse utilizando meus quarenta centavos para fazer festa. Quem sabe ligou para a mãe e deu um jeito em tudo isso.
Um casal gay desceu do carro e deixou uma mala no guarda-volume. Se o carro tem porta malas, até agora fiquei pensando porquê. O que havia naquela mala? Por que não podiam carregá-la?
Um senhor careca, cinqüentão, usando terno e com a voz muito grave fala sobre diversos assuntos com o casal que o levou até lá. Já falou mal da rodoviária, do trabalho e perguntou do cachorrinho que não sei quem arranjou. No final das contas, ele sentou ao meu lado no ônibus, mas eu isso eu só fui saber depois. Ele roncava tanto quanto falava.
O rapaz ao meu lado está curioso. Tenta ler o que eu escrevo. Não é nada, moço. São essas letras que me perseguem. No trabalho, elas me cansam. No ócio, me relaxam.
domingo, 8 de novembro de 2009
Fernanda Young é gostosa (de ler)
Talvez ela tenha aceitado o convite para mostrar que mesmo aquelas que são diferentes da maioria podem se encaixar. Talvez o prazer de ser o desejo de muitos homens a tenha convencido. Ela afirmou que gostaria de vender mais que uma Big Brother. Talvez tenha sido apenas o dinheiro.
Ela escreveu as suas 10 razões http://ego.globo.com/Gente/Noticias/0,,MUL1301774-9798,00-FERNANDA+YOUNG+ASSUME+QUE+VAI+POSAR+NUA+PARA+A+PLAYBOY.html e nenhuma delas me convenceu! Concordo com um Big Brother, que saiu em defesa das suas e disse: “Antes tivessem mais BBB's. Afinal, sensualidade ‘papo cabeça’ não rola. Cada um na sua”.
Na capa, a cara que era para ser sensual parece mais de uma pessoa sufocada pelo modelito de cintura apertada, cintura tão fina que não sei se é real ou obra do Photoshop...
Enfim, eu preferia que Fernanda Young continuasse gostosa de ler e só.
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Campanha - Sonhe com o meu namorado
- Então ele era gostosão, mãe? - perguntei.
- É... Nessa linguagem de vocês...
Hoje recebi de uma amiga um e-mail.
“Carol, Carolzinha, Carolzona...
O motivo deste email é que sonhei contigo. A noite inteiraaaa, sua chata! Nem pra dar um espaço para o Cauã Reymond (é assim que se escreve???). Pois é, sonhei com você e com a Lígia! A noooiiiiteee inteeeiraaaa. Até acordei cansada das nossas aventuras.
Bem, sonhei que era o meu aniversário e que estava chovendo, não havia nada pra fazer... enfim, e vocês tentavam levantar o meu ânimo. Passamos o meu sonho procurando roupas, vagando pelas ruas molhadas de uma cidade qualquer (mistura de Guarapuava com Buenos Aires e pitadas de São Paulo – típicos sonhos de Michele) e você estava namorando! Quem? Não lembro, só sei que era um cara riquíssimo”.
Isso me intrigou. Então respondi:
“Huahuahuahuahu
Minha mãe também andou sonhando que eu estava namorando. Você já tem mais detalhes, ele é rico. Vou esperar o próximo sonho de alguém com mais alguma característica. Assim, enfim, identificarei o homem da minha vida. O difícil vai ser bater nas costas dele, me apresentar e explicar para ele como eu descobri que somos almas gêmeas”.
E ela sugeriu:
“Os sonhos com a sua "alma gêmea" dão para o blog, vai por mim. Dá pra colocar enquete ou pedir que a galera tente adivinhar as características do dito cujo”.
Sugestão aceita. Desta forma, está iniciada a campanha: Sonhe com o namorado da Carol e ajude-a a identificá-lo. Espero que tenhamos sorte. Espero os relatos ou, no mínimo, os comentários.
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Invisível
Todos se incomodaram enquanto a tal louca falava ao mesmo tempo que o prefeito. “Meu Deus, que desrespeito!” – resmungavam. Enquanto eu respondia mentalmente: “E quanto desrespeito ela já não passou na vida?”.
Quando um celular tocava - no aparelho que só ela via em sua mão - ela atendia a chamada. Contava ao ouvinte onde estava e o mantinha informada sobre tudo o que o prefeito dizia. Certa vez ficou brava, pois parece que era sempre a mesma pessoa que ligava. “Já não te disse que estou numa reunião importante? Pare de me ligar. Não posso parar o negócio aqui toda hora pra te atender". Alguns riram, outros ficaram constrangidos, afinal, enquanto ela sonhava que seu celular desviava a atenção da palestra, o deles realmente o fazia.
Enquanto o prefeito reclamava, cheia de boa vontade ela dizia: “Quando eu ganhar um milhão vou acabar com tudo isso. Você vai ver. Vocês todos vão ver. Vou dar um jeito nisso. Vou dar dinheiro pra todo mundo, mas é só pra quem merece”. Nesta hora, alguns previram que seus bolsos continuariam vazios.
Fico pensando em quantas vezes aquela senhora já foi invisível. Quiçá esta tenha sido a primeira vez que foi vista e ouvida.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Hoje acordei gorda
Eu derrubei a carteira aberta e as moedas voaram pela rua. Ana Paula Padrão está na Record e eu aqui. Aquele aluno insuportável acordou de pé esquerdo. Falando em pés, bati minha unha encravada assim que levantei.
Tem dias que é assim, a gente acorda burra. Parece que tudo o que aprendemos ficou no travesseiro. Eu esqueci como se fala choramingar em inglês. Só lembrei agora que já não preciso mais disso. O entrevistado não ligou. A matéria não saiu. O computador não ajuda.
‘Hoje acordei gorda’ (Florence Stelle, editora Rocco) é um livro do qual gostei muito. Acordar gorda não é uma questão de manequim, é estado de espírito.
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Depois do quarto Ponstan
E não precisam me mandar chorar, nem cantar, isso eu faço por mim mesma.
Amanhã quero acordar a Carolina de Seu Jorge, maravilha de mulher.
E depois, ouvi-lo cantarolar, choroso de amor: ‘Oh Carol! I’m but a fool. Darling I love you, though you treat me cruel”.
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Papo de mulher
- Eu também! Estou morrendo de saudades de uns livros, uns prazos para cumprir, uma galera para sair! Preciso ver um mestrado, aprender mais.
- Eu também! Eu vejo que este é o único futuro para mim!
- Eu não tenho futuro para lado nenhum! Sou burra demais para estudar, tonga demais para trabalhar e feia demais para casar!
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Red
No rubor da sua pele
Quando lhe falei ao pé d’ouvido.
Talvez os físicos estejam certos,
A cor é pura sensação.
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Criança tem cada uma
- Tia, eu quero jogar.
- Mas você não pode jogar...
- Por quê?
- Porque este jogo é para gente grande. Você ainda é pequena.
- Eu sei... Mas é que eu quero ir treinando desde já...
sábado, 29 de agosto de 2009
No vermelho
- Quando eu vejo televisão, acho que todo mundo é rico e só eu não tenho dinheiro. Eu sei que não é caro, que o que eles estão mostrando está barato, mas eu não tenho dinheiro.
- Dãhhhh... É só mudar pra Record. Lá só mostra pobre!
- Mas eu não sou traficante...
- Ahh... Daí é uma opção sua: ser pobre ou morrer pobre...
domingo, 23 de agosto de 2009
Ao prazer e à fé
E que todos os santos nos perdoem
Mas vou tirar a roupa
E pecar contra a castidade!
Que seja abençoado
O prazer da humanidade!
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Last waltz
Rodopiamos pela cozinha, meu salão particular.
Como é triste ouvir tão boa valsa e não ter com quem dançar!
sábado, 15 de agosto de 2009
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Só acontece com ela
Mas ela não estava mal por isso. Ainda tinha outras amigas solteiras, que não aderiram à febre do casamento, e conseguia se divertir nas noites de sábado.
Embora ligasse todo dia, o que ligava para dizer que não ia ligar não era bom de papo nem fazia o seu tipo. Se encontraram numa festa, uma única vez, e por seis meses ele continuava ligando. Era bonitão, mas definitivamente não era o seu tipo. Ele gostava de cavalos e ela de salto agulha.
Numa sexta, sozinha em casa, o telefone toca. Um número privado.
- Alô!
- É a Maria? – perguntou uma voz feminina.
- Sim?
- Maria, é o seguinte. Encontrei este telefone. Eu sou da agência da Caixa. Alguém deixou este telefone aqui...
- Aham...
- Você conhece este número?
- Está no privado!
- Ah sim... Você é o único contato que tem nele! Você conhece um Gildo? É o nome que está no visor. Fora você, não tem outro contato...
- Não, não conheço ninguém com este nome...
- Não conhece?
- Não...
- Mas só tem você aqui!
- Pois é... Mas não lembro de ninguém com este nome!
- Então ta bom, obrigada!
Ela desligou o telefone e riu muito. Nem sabia onde ele morava. Nunca mais o viu. E ele tinha um telefone só para falar com ela. “O sem vergonha devia ser casado!”, esbravejou, ainda rindo. Ou talvez fosse realmente tão bobo quanto ela pensava... “Pelo menos está explicado porque ele nunca mais me ligou!”.
E foi se arrumar para a festa. Bem no fim, ela não ia tão mal assim!
Tem coisas que só acontecem com a Maria!!!
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
Dando (aula) para o padre
- Hoje tenho que dar aula para o padre.
Disse a professora mais velha. Olhando para a mais nova, brincou:
- Não quer você, que é mais novinha, dar para o padre hoje?
A outra, consciente de sua situação, respondeu já se benzendo:
- Deus me livre! Já estou com saldo negativo no céu! Se eu der para o padre carimbo o visto direto para o inferno!
terça-feira, 4 de agosto de 2009
Borboletas de Zagorsk
Antes de prosseguir, coloco o questionamento que me levou a assisti-lo e gostaria que você pensasse sobre isso: Crianças surdas e cegas, que nasceram assim ou ficaram com tais deficiências devido a alguma doença podem se comunicar? Elas têm alguma possibilidade de se transformarem em adultos com capacidades intelectuais, sociais e físicas totalmente desenvolvidas?
Eu respondi que não e minhas orelhas de burro estão arrastando no chão até agora. É impressionante a 'não-limitação' humana para aprender e se adaptar. Mais do que isso, é incrível a capacidade do ser humano em acreditar e realizar o impossível.
O documentário mostra como os professores russos ensinam alunos com as deficiências que citei, associadas - em alguns casos - a retardos mentais. Estes professores acreditam que toda criança tem direito a educação e tem plenas possibilidades. Para a minha surpresa, a personagem principal do documentário perdeu a visão e audição com 9 anos de idade. Ela é filosofa, psicóloga, mãe e esposa. Escreve poemas com vocabulário muito mais vasto do que o meu.
Enfim, é um dos fatos mais impressionantes que vi. Ainda, minhas orelhas de burro não me deixam compreender como uma pessoa que nunca teve acesso a qualquer outro tipo de comunicação consegue dar sentido a pequenos movimentos de mão, fazendo com que cada um tenha um significado, tornando-a capaz de se comunicar plenamente.
Na minha ignorância, eu imaginava que estas pessoas eram condenadas a uma vida inativa. Que eram alimentadas e limpas diariamente, sem outros horizontes. Pobre de mim que não tenho a capacidade de acreditar no impossível!
Termino com uma frase citada no documentário, que é o lema dos professores deste instituto. Ela diz mais ou menos assim: Qualquer aluno pode aprender, basta encontrar o método certo.
sábado, 1 de agosto de 2009
Um beijo por um queijo
Quem comer não beija
E quem beijar não come!
Te roubei aquele beijo
E, triste constatação,
Não valeu a perda do queijo!
quinta-feira, 23 de julho de 2009
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Um anjo
Na minha rua havia um vizinho cuja casa, por toda a minha infância, foi a mais bonita de todas. Naquela época eu nem morava aqui ainda, mas sabia que ele era o morador mais rico do bairro dos meus avós. A casa dele era a única com piscina e durante muitos verões passados na cidade eu ouvia os primos falando sobre banhos sorrateiros de piscina quando a família rica viajava.
Mesmo sendo o mais abastado de todos, o homem cujo nome me lembrava Faraó (e é assim que vou chamá-lo no texto) não era o mais feliz. A esposa dele, diziam as vizinhas nas rodas de conversa, era uma praga. A mulher era antipática e não deixava nem que as carolas da vizinhança rezassem novenas de Natal na casa dela. A mulherada nunca soube o que havia por trás daquelas janelas sempre fechadas.
Seu Faraó era o contrário da esposa. Sempre muito simpático, corria todas as manhãs para manter a forma e por onde passava cumprimentava as pessoas alegremente. Ninguém entendia como aquele casamento entre opostos se mantinha por tantos anos.
Até que um dia a velha morreu. Eu, como pobre que sou, nunca conheci alguém que tivesse sido cremado. Pois bem, a velha foi. E eu nem posso dizer que a conhecia, pois só a via saindo e entrando em casa nos carros de luxo. Enfim, o estranho de tudo isso é que o homem, em vez de espalhar as cinzas em algum lugar, a colocou numa urna. Uma urna em forma de anjo.
Acho que o Seu Faraó resolveu viver a vida ao lado da amada depois que ela deixou de falar e o atormentar. Por algum tempo, ele a levava à missa, viajava com ela e andava com o anjo no banco da frente do carro. Dizem até que a levava ao mercado, mas isso eu nunca vi. Até na própria missa de sétimo dia a mulher foi levada...
Depois de alguns meses, o velho trocou o anjo cinzento por uma morena cheia de vida. Hoje eles têm um filho. A morena corre com ele todas as manhãs, cumprimentando a vizinhança e garantindo que o marido não se empolgue ao avistar alguma velha conhecida. O casal mudou-se para uma casa menos suntuosa e hoje as filhas da antiga dona brigam pela herança. Alguns Natais se passaram e sem uma proprietária à qual pudessem recorrer, nenhuma novena foi realizada lá e as vizinhas até hoje não sabem o que há dentro daquelas paredes.
Eu acho tanta graça nesta história. Sei que ela não é tão divertida, mas, às vezes, quando penso no anjo indo à missa com todas aquelas pessoas que ela sempre desprezou, chego a chorar de tanto rir.
terça-feira, 30 de junho de 2009
Maldade
Eu não sou tão feia assim!
Alguém está de sacanagem comigo,
Amarraram as asas do cupido!
domingo, 28 de junho de 2009
Papo cabeça
Kamikase (reservadamente) fala para Maria: Tc de onde anjo?
Maria (reservadamente) fala para Kamikase: Garanto que não é do céu...
Kamikase sai da sala.
24cm (reservadamente) fala para Maria: E ae gostoza, a fim de um papo quente?
Dark Side (reservadamente) fala para Maria: E aí, a fim de tc?
Maria (reservadamente) fala para Dark Side: Vim aqui para isso... rs
Dark Side sai da sala.
24cm sai da sala.
Fiel e simpático entra na sala.
Maria (reservadamente) fala para Fiel e simpático: Só falta ser bonito e inteligente...rs
Fiel e simpático sai da sala.
Dom Casmurro (reservadamente) fala para Maria: Boa noite, tudo bem?
Maria (reservadamente) fala para Dom Casmurro: Olá! Tudo bem e vc?
Dom Casmurro (reservadamente) fala para Maria: Mais milhor agora. Qtus anos gata?
Maria sai da sala.
quinta-feira, 25 de junho de 2009
Fofoquinhas inocentes
1- Ela é muito feia!
2- Coitada, ela tem problemas hormonais!
1- Hoje em dia isso tem tratamento, não é desculpa!
3- Ai gente! Ela é relaxada! A genética também não me favoreceu e nem por isso eu avacalho.
Dicas de sedução
1- Eu gosto de calcinha grande, de algodão, com estampa de sapinho. Não gosto de nada enfiado no rego.
2- Mas não é calcinha para usar, amiga! É calcinha para tirar!
3- Isso aí! Boa, menina! Você está ficando safadinha!
Fofocar é preciso
1- Precisamos fofocar mais, pelo menos uma vez por semana!
2- É verdade, eu estava com saudades...
3- É... Mas na próxima vez o assunto não pode ser sexo, porque eu não tenho para quem ligar depois da conversa!
1- Hahahahaha
2- Coitada de você!
Revelações
1- Gente, morro de medo de falar essas coisas porque outras janelas estão abertas. Imagina se eu erro e mando a mensagem para a pessoa errada?
2- Nossa! Hahaha... Já imaginou seu amigo lendo isso?
1- Como é que eu iria explicar?
3- O que eu perdi?
terça-feira, 23 de junho de 2009
Epitáfio II
Que vivia enchendo o saco,
Não tendo mais o que fazer,
Veio encher este buraco.
Nova
terça-feira, 9 de junho de 2009
Todas as cartas de amor são ridículas – The gost writer
O preço, você deve estar curioso, às vezes era passagens de ônibus, já que usávamos a condução diariamente. Noutras, um agradinho na hora do lanche, às vezes um bombom, noutras um ioio nut cream (se você é da minha época sabe que estou falando daquele docinho metade chocolate branco, metade chocolate preto. Ele custava 15 centavos na banca do Maneco).
Teve uma vez que fui contratada para escrever uma declaração de amor, mas confundi tudo e terminei o namoro. Minha amiga, que não era das mais santas, pagou do mesmo jeito e encomendou outra, pois sabia que logo terminaria aquele namoro e usaria a obra prima do mesmo jeito. Daí escrevi a correta, dizendo o quanto amava tal rapaz...
E olha que naquela época não havia internet. Eram versos, rimas, textos e ideias próprias, talvez adaptadas de alguma música ou poema que passou pelas minhas mãos.
Meu primeiro trabalho como ghost writer foi um exercício sobre figuras de linguagem, na oitava série. Eu escrevi:
A panela no fogão,
Borbulhando sem parar
É como o meu coração
Que não deixa de te amar
Ele foi lido pela professora como o melhor da sala (o que indica que o nível do concurso não era dos mais altos!). Minha colega ganhou a fama e como vendi a obra, fiquei quietinha no meu canto. O que escrevi para mim, nem lembro mais, mas minha primeira obra vendida eu não esqueço.
Teve outra vez, que ajudei uma amiga a escrever uma carta terminando um namoro. E como se não bastasse, ainda tive que entregar a dita cuja. Coloquei-a nas mãos do pobre rejeitado e ia tomar meu rumo. Então, ele me segurou e pediu para ficar. Ele chorou e me perguntou porquê. Eu não sabia o que responder. Fiquei com a consciência tão pesada que ajudei a uni-los novamente. Hoje estão casados, para alívio da minha alma que iria direto para o inferno se não fosse assim.
Não tenho cópias destas cartas. Uma pena!
Nas minhas apostilas, certamente há vários rascunhos delas. Todos estes livros se perderam depois que eu passei no vestibular e os dei a quem ainda pudesse aproveitar. Quem sabe alguma das minhas cartas ainda circula por aí, mexendo com os corações de adolescentes apaixonados.
Embora eu não possa mais lê-las, de uma coisa eu tenho certeza: eram ridículas! Já disse o poeta, não seriam cartas de amor se não fossem ridículas.
sexta-feira, 5 de junho de 2009
Romantismo na vida real
Lembro de Adélia Prado, em entrevista ao programa Sempre um papo, da TV Câmara, edição que assisti ao vivo e em várias reprises, tão grande é o meu encantamento por essa autora. Ela contava a história de como a sua mãe ajudava o seu pai, quando ele chegava da pescaria com muitos quilos de peixe sujos para serem limpos. Ela enxergava no rosto de sua mãe uma alegria - que só era percebida pelos olhos mais sutis, quando via o marido chegando. Sem muita empolgação, sem beijos na chegada, lado a lado na pia, limpavam as escamas e a parte interna do pescado, tirando a ‘barrigada’. Para Adélia, aquilo não era romantismo, mas era amor. O que há de romântico em sujar a cozinha e sentir cheiro de peixe? – perguntava. Nada! – ela mesma respondia. Mas passar a madrugada conversando, ouvindo as histórias da pescaria, contando o que aconteceu no lar e se doando ao trabalho em conjunto, isso é amor.
Adélia me emociona por ser uma pessoa tão bonita!
O lado romântico da minha mãe resume-se a coar o café na hora em que meu pai chega do trabalho. Meu pai não manda flores, mas outro dia acordou nervoso porque sonhou que tinha perdido a ‘véia’. Sim, eles se chamam de ‘véio e véia’, pois minha mãe sempre achou cafona chamar de amor, de meu bem. Ela ri dos casais que fazem isso e eu fico imaginando o quanto os ‘casais meu bem’ riem quando se encontram com o ‘casal de véios’. Se meu pai está dormindo, a mãe assiste TV baixinho, respirando menos para escutar melhor. Se ela dorme, meu pai continua assistindo como se houvesse uma festa em casa. Mas se ela fica doente, fica junto no hospital, alerta a qualquer movimento e nem reclama da conta para pagar.
Agora eu entendo que o para sempre do meu pai quer dizer que não é o tempo todo de alegria, mas alguns momentos que fazem a união valer a pena.
Continuo sem querer casar, mas acho que já compreendo os motivos de quem quer...
quinta-feira, 4 de junho de 2009
Pequenas rimas
Confio-te, ardente,
Meu corpo, semente
A saudade dói,
Por aquilo que o tempo corrói
Saudade de verdade,
Só do amor e da maldade
Que às vezes me invadem
R,
Mas nunca espere
Que te perdoem
Amo seu panos e planos
Mais ainda, amo quando seu planos não incluem os panos
Despidos, então, nos amamos
terça-feira, 2 de junho de 2009
Natural
Passa meses verde, sem ser notado, banal...
De repente, fica nu, despe-se de tudo que o iguala
Mostra-se em suas entranhas,
Tão logo se acostumem com sua tristeza desfolhada,
Num belo dia abrirão a janela e o verão
Prepotente, suntuoso, extravagante
Roxo ou amarelo, ele se espalha e se faz presente
Deleita os olhos de quem vê
Epitáfio I
Derreteu feito parafina,
Parou de fazer rima
E foi morar no andar de cima.