quinta-feira, 23 de julho de 2009

Babe, não é bem assim...

Eu só falo difícil para você não perceber que eu sou fácil.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Um anjo

Na minha rua havia um vizinho cuja casa, por toda a minha infância, foi a mais bonita de todas. Naquela época eu nem morava aqui ainda, mas sabia que ele era o morador mais rico do bairro dos meus avós. A casa dele era a única com piscina e durante muitos verões passados na cidade eu ouvia os primos falando sobre banhos sorrateiros de piscina quando a família rica viajava.


Mesmo sendo o mais abastado de todos, o homem cujo nome me lembrava Faraó (e é assim que vou chamá-lo no texto) não era o mais feliz. A esposa dele, diziam as vizinhas nas rodas de conversa, era uma praga. A mulher era antipática e não deixava nem que as carolas da vizinhança rezassem novenas de Natal na casa dela. A mulherada nunca soube o que havia por trás daquelas janelas sempre fechadas.


Seu Faraó era o contrário da esposa. Sempre muito simpático, corria todas as manhãs para manter a forma e por onde passava cumprimentava as pessoas alegremente. Ninguém entendia como aquele casamento entre opostos se mantinha por tantos anos.


Até que um dia a velha morreu. Eu, como pobre que sou, nunca conheci alguém que tivesse sido cremado. Pois bem, a velha foi. E eu nem posso dizer que a conhecia, pois só a via saindo e entrando em casa nos carros de luxo. Enfim, o estranho de tudo isso é que o homem, em vez de espalhar as cinzas em algum lugar, a colocou numa urna. Uma urna em forma de anjo.


Acho que o Seu Faraó resolveu viver a vida ao lado da amada depois que ela deixou de falar e o atormentar. Por algum tempo, ele a levava à missa, viajava com ela e andava com o anjo no banco da frente do carro. Dizem até que a levava ao mercado, mas isso eu nunca vi. Até na própria missa de sétimo dia a mulher foi levada...


Depois de alguns meses, o velho trocou o anjo cinzento por uma morena cheia de vida. Hoje eles têm um filho. A morena corre com ele todas as manhãs, cumprimentando a vizinhança e garantindo que o marido não se empolgue ao avistar alguma velha conhecida. O casal mudou-se para uma casa menos suntuosa e hoje as filhas da antiga dona brigam pela herança. Alguns Natais se passaram e sem uma proprietária à qual pudessem recorrer, nenhuma novena foi realizada lá e as vizinhas até hoje não sabem o que há dentro daquelas paredes.


Eu acho tanta graça nesta história. Sei que ela não é tão divertida, mas, às vezes, quando penso no anjo indo à missa com todas aquelas pessoas que ela sempre desprezou, chego a chorar de tanto rir.