Maria andava sozinha, no sentido amoroso da coisa. Aquele estava namorando, o outro era apenas o outro e o que ligava todos os dias - mesmo que fosse para dizer que não poderia ligar no horário de sempre - parou de ligar de repente.
Mas ela não estava mal por isso. Ainda tinha outras amigas solteiras, que não aderiram à febre do casamento, e conseguia se divertir nas noites de sábado.
Embora ligasse todo dia, o que ligava para dizer que não ia ligar não era bom de papo nem fazia o seu tipo. Se encontraram numa festa, uma única vez, e por seis meses ele continuava ligando. Era bonitão, mas definitivamente não era o seu tipo. Ele gostava de cavalos e ela de salto agulha.
Numa sexta, sozinha em casa, o telefone toca. Um número privado.
- Alô!
- É a Maria? – perguntou uma voz feminina.
- Sim?
- Maria, é o seguinte. Encontrei este telefone. Eu sou da agência da Caixa. Alguém deixou este telefone aqui...
- Aham...
- Você conhece este número?
- Está no privado!
- Ah sim... Você é o único contato que tem nele! Você conhece um Gildo? É o nome que está no visor. Fora você, não tem outro contato...
- Não, não conheço ninguém com este nome...
- Não conhece?
- Não...
- Mas só tem você aqui!
- Pois é... Mas não lembro de ninguém com este nome!
- Então ta bom, obrigada!
Ela desligou o telefone e riu muito. Nem sabia onde ele morava. Nunca mais o viu. E ele tinha um telefone só para falar com ela. “O sem vergonha devia ser casado!”, esbravejou, ainda rindo. Ou talvez fosse realmente tão bobo quanto ela pensava... “Pelo menos está explicado porque ele nunca mais me ligou!”.
E foi se arrumar para a festa. Bem no fim, ela não ia tão mal assim!
Tem coisas que só acontecem com a Maria!!!