quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Na terra de Oz

Como todos sabem, Dorothy acordou e voltou para casa, afinal “There is no place like home”. Contudo, há alguns dias a garota resolveu enviar ao grande Feiticeiro uma carta que chegou às minhas mãos. Fiquei tão comovida com a situação que resolvi compartilhar. Assino embaixo e peço ao grande Feiticeiro que atenda ao pedido de Dorothy.

“Prezado, soberano e grande amigo Oz,
Estou organizando uma viagem com o intuito de voltar à Cidade das Esmeraldas e trilhar mais uma vez a estrada de tijolos amarelos para te encontrar.

Da primeira vez, o senhor deve ser lembrar, encontrei grandes amigos: o Leão Covarde, o Homem de Lata e o Espantalho. Apesar dos nossos defeitos e medos, conseguimos cumprir a jornada.

Lembro-me tão bem de quando o Espantalho, ao levar o primeiro tombo do dia, depois de tropeçar numa pedra, foi questionado pelo Homem de Lata:
- Por que não pulou a pedra?
- Não tenho cérebro. No lugar dele, apenas palhas. Por isso não raciocino direito. Espero ganhar um cérebro do Grande Oz.

Fiquei muito triste pelo Espantalho e mais ainda com o que nos contou o Homem de Lata logo em seguida.

- Para mim, cérebro tem pouca importância - disse ele.
- Ah! Isso é porque deve ter um bom cérebro – apressou-se o Espantalho.
- Não. Minha cabeça é completamente oca. Mas já tive cérebro e coração. E, por ter experimentado os dois, prefiro mil vezes o coração.
Então ele contou a história de amor que viveu no passado e que, por ser então um homem de lata, não poderia nem mais chorar o seu fim. Tudo começou quando a moça que ele amava contou à velha bruxa, sua patroa, que iria se casar. Raivosa, a bruxa tirou do jovem apaixonado uma das pernas. Desesperado, ele foi ao funileiro que lhe fez uma perna de lata tão boa quanto a natural. Inconformada, a bruxa ordenou ao machado mágico que o retalhasse pouco a pouco, até que ele foi inteiramente refeito em lata.
- Pela quarta vez o bom funileiro me reconstituiu todo em lata. Mas, para a minha tristeza, não fez coração! Sem coração, perdi todo o amor pela moça. Então, desmanchei o noivado - narrou.
Eu fiquei admirada e percebi que o Homem de Lata havia perdido uma das coisas mais importantes da vida, o amor.
- Você tem razão. Por outro lado, passei a sentir orgulho do meu novo corpo, resistente ao golpe de machado e brilhante em dias de sol. Hoje, só temo a ferrugem. Por isso, ando sempre com a lata de óleo para lubrificar minhas juntas - respondeu-me.
- Por que quer um coração? - perguntei.
- Ora! Pretendo me apaixonar de novo - disse o Homem de Lata.

O Leão Covarde, pobrezinho, venceu um monstro adormecido. Os animais da floresta não perceberam que o grande inimigo estava em sono profundo e elegeram o Leão como rei da floresta, quando, na realidade, ele temia até a si mesmo.

Todos, querido Oz, vivem felizes. Ficaram satisfeitos com os presentes que você lhes deu. O Espantalho virou intelectual. Na última vez que soube dele, era professor convidado em Harward, ilustre nos assuntos mais importantes da humanidade. O Homem de Lata casou-se com a jovem que por muito tempo sofreu sem o seu amor. Semana passada ele enviou-me foto do terceiro filho que nasceu há alguns dias. Eu voltei à minha casa e por um longo tempo fiquei muito feliz com o retorno.

Mas eu cresci, estudei. Hoje trabalho, tenho amigos, mas um problema muito maior do que estar longe de casa. Conheci novas pessoas, novos amigos, tive amores. Mas sabe o que descobri? Hoje em dia, os homens não são como os amigos que encontrei em Oz, eles são completos: São Homem de Lata, Espantalho e Leão Covarde, todos ao mesmo tempo, todos na mesma pessoa.

Feiticeiro, meu grande amigo, consegue ver meu problema? Eles não tem coração, não raciocinam e são medrosos. Eles não amam, não pensam duas vezes ao fazer alguém sofrer e quando amam são covardes demais para admitir.

Eu, que sou feita de carne, que tenho coração, sentimentos e coragem para admiti-los, que não tenho medo de chorar para não enferrujar, ando cabisbaixa, sofrendo como nunca imaginou quem ouviu a minha história de grandes aventuras pelo caminho dos ladrilhos amarelos.

Espero que compreenda o tamanho de meu problema e possa ajudar-me. Aguardo ansiosa o seu contato para marcarmos a data da viagem.

Com estima, faço votos de vê-lo em breve,

Dorothy”

domingo, 15 de agosto de 2010

Toca-me



Violinista,
Aconchega-me em seu ombro e faz dançar a minha alma.







(Imagem: O Violinista - André Cerino)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

A devil?

Se estou em meu inferno astral, isso faz de mim o diabo em pessoa?