tag:blogger.com,1999:blog-12099916846131546002024-03-13T20:40:41.031-07:00Histórias da CarolchinhaEra uma vez...Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.comBlogger137125tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-36548762243533932162024-01-11T16:27:00.000-08:002024-01-11T16:30:55.201-08:00Epitáfio nordestinoKarolina vai no chão <div>Karolina an an an </div><div>Karolina vai no chão </div><div>Karolina an an an </div><div>Karolina vai no chão </div><div><br /></div><div>Música: Karolina </div><div>Composição: O erótico (sooooocorro!)</div><div>PS: No túmulo deixem sem a autoria porque é humilhação demais!
</div><div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/O7609yfn88E" width="320" youtube-src-id="O7609yfn88E"></iframe></div><br /><div><br /></div>Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-70794867773606185252023-11-07T14:45:00.002-08:002024-01-12T09:48:50.080-08:00Sobre as avós e os dias de chuva<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizI_XmTtIBbBwnbxyZPLCs2WSlYXavSrK9IiK44lRfgdVS974z7tPtBaLEuQ-j74FAjnTXYOAgiieVZeFgb6yed2tKZTiBmRacXCMEHn5DYXuDiUqwiDx2b7uBrfj4i3nixuZoDZ94-485lprXMg8NtVhep5SuwIZ1HC1QBt8fguThS90dGOt7a6zu2BCE/s1600/telefone%20v%C3%B3%20Maria.jpeg" style="display: block; padding: 1em 0px; text-align: center;"> </a><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizI_XmTtIBbBwnbxyZPLCs2WSlYXavSrK9IiK44lRfgdVS974z7tPtBaLEuQ-j74FAjnTXYOAgiieVZeFgb6yed2tKZTiBmRacXCMEHn5DYXuDiUqwiDx2b7uBrfj4i3nixuZoDZ94-485lprXMg8NtVhep5SuwIZ1HC1QBt8fguThS90dGOt7a6zu2BCE/s1600/telefone%20v%C3%B3%20Maria.jpeg" style="display: block; padding: 1em 0px; text-align: center;"></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrSwkYRATQHiS-lYprvh_ZjXjiw4z4TVZxlyfD3O4OTPaHayu8nzpaaiaAgq6lJ1CrTfedMIL3M3iU8wa_uRjyQJJ_82tZZoRJkRn6wOZmHzNu_Rb5oTA0v5Z472sRbGoc-J107ma5FEUAkBo2sSCUcsUTzqPuskZu8vGd4TfyGvct7m5cxeIMe2_-XcBT/s960/V%C3%B3%20Maria%20_telefone.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="769" data-original-width="960" height="256" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrSwkYRATQHiS-lYprvh_ZjXjiw4z4TVZxlyfD3O4OTPaHayu8nzpaaiaAgq6lJ1CrTfedMIL3M3iU8wa_uRjyQJJ_82tZZoRJkRn6wOZmHzNu_Rb5oTA0v5Z472sRbGoc-J107ma5FEUAkBo2sSCUcsUTzqPuskZu8vGd4TfyGvct7m5cxeIMe2_-XcBT/s320/V%C3%B3%20Maria%20_telefone.jpeg" width="320" /></a></div></div><div>Quando eu era criança, no início dos anos noventa, não tínhamos telefone em casa. Então, no domingo à noite, meu pai nos convidava para ligar para a vó Maria. Nós morávamos em um lugar lindo, que fazia jus ao seu nome: Fazenda Monte Alegre. Um lugar de ruas largas, com imensas árvores e cantos de passarinhos, onde eu aprendi a amar os ipês. Eu pegava minha bicicleta, amarela – vibrante como as flores dos ipês, e ia feliz, serpenteando na frente, enquanto ele nos seguia a pé, até o escritório. Eu gostava do cheiro de limpeza e do eco que fazia ao adentrar o prédio vazio. Lá, naquele telefone cinza e de fio embolado, antes tão populares, mas que hoje não se vê mais por aí, ele chamava a telefonista pedindo uma ligação para Irati, Paraná. Em poucos instantes ouvíamos o trimmmmmmmm estridente, hoje tão saudoso. Era a telefonista que retornava com minha avó do outro lado da linha.</div><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYrqgR_i0TXW_vdO0pnRm0Ydas1jAn3X2rnPJYV7u-ajiOdrzRhBJQJvdNRBfD7YWR46nT3K-JvZK9abAiPyWRgQEgYOdzy3ptiq3RuNcFGDtQl86szQp9hY23r7ZH5SVNnmc5j3Glvs0l1COy894DSaq7eiZ3fk1AKAhKcbaNcUa_ttwAEBumynemGSMq/s1916/ip%C3%AAs%20lagoa.jpg" style="display: block; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="1548" data-original-width="1916" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYrqgR_i0TXW_vdO0pnRm0Ydas1jAn3X2rnPJYV7u-ajiOdrzRhBJQJvdNRBfD7YWR46nT3K-JvZK9abAiPyWRgQEgYOdzy3ptiq3RuNcFGDtQl86szQp9hY23r7ZH5SVNnmc5j3Glvs0l1COy894DSaq7eiZ3fk1AKAhKcbaNcUa_ttwAEBumynemGSMq/s320/ip%C3%AAs%20lagoa.jpg" width="320" /></a></div>
Depois de conversar um pouco, ele me colocava para bater papo e escutar o que a vovó tinha a nos contar. Ela perguntava da escola, dos amiguinhos, dos peixes do aquário, do cachorrinho. Ela morava no alto do bairro, em uma casa amarela, de madeira, com varanda “em L” na frente. As calçadas avermelhadas eram feitas de caquinhos e ganhavam vida com as flores coloridas e sempre bem cuidadas, ladeando a casa e as cercas: beijinhos cor-de-rosa, margaridas brancas e pimentas sarapintadas, entre tantas mais...<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEig7BxFYOAQd4LAlPjkEbm0L1RkEmfsatLOWM5SUcodl8ZEFtJH4LtvEJsa390r_Qt6HmJ_NlAAWIr3t2XZivzCJqOIi0NE7CeYu8xe6R3egMJlpQ9YWzmrXzbESkKe9fS6VZ1b5KXyRO3qh6feO2-KTSC-LRAt0Kx0YwAwa5Q_C5lOq-LI0g0BhsAK-XFm/s352/bicicleta.jpeg" style="display: block; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="352" data-original-width="273" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEig7BxFYOAQd4LAlPjkEbm0L1RkEmfsatLOWM5SUcodl8ZEFtJH4LtvEJsa390r_Qt6HmJ_NlAAWIr3t2XZivzCJqOIi0NE7CeYu8xe6R3egMJlpQ9YWzmrXzbESkKe9fS6VZ1b5KXyRO3qh6feO2-KTSC-LRAt0Kx0YwAwa5Q_C5lOq-LI0g0BhsAK-XFm/s320/bicicleta.jpeg" /></a></div>
No quintal da casa da vó, havia um mar de alface. Toda manhã e tarde elas eram regadas. Iam para as nossas refeições e para muitas outras mesas dos arredores, pois os vizinhos, perto da hora do almoço, batiam no portão para comprar as verduras fresquinhas da dona Maria. <div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggVhE0pIYZj32SwYJmq7rjS73hq5F5mLt7HwgAC_VoFsG50e58tcWYZEimbjg1U8ijxp5LIUvkrD5oV82rIMcisSDUFCqYS9aWt78MPPbeBHNqJo0fxjIZ7k7LgUnnnTgw5F1HSWjDfFPIcwQji112KIB3u-dtlczGENCBm1FMxNz050AFC3X12WPFHR7U/s1600/Casa%20v%C3%B3%20Maria.jpeg" style="display: block; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="1065" data-original-width="1600" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggVhE0pIYZj32SwYJmq7rjS73hq5F5mLt7HwgAC_VoFsG50e58tcWYZEimbjg1U8ijxp5LIUvkrD5oV82rIMcisSDUFCqYS9aWt78MPPbeBHNqJo0fxjIZ7k7LgUnnnTgw5F1HSWjDfFPIcwQji112KIB3u-dtlczGENCBm1FMxNz050AFC3X12WPFHR7U/s320/Casa%20v%C3%B3%20Maria.jpeg" width="320" /></a></div>
“Hoje choveu muito”, ela dizia ao telefone. “Está coisa mais linda aqui do alto! As alfaces estão crescendo de um dia para o outro, dá até para ver as folhas dobrando de tamanho. Aqui do alto, consigo enxergar o festival de guarda-chuvas coloridos. As crianças vão para a escola felizes com suas sombrinhas e as moças vão trabalhar apressadas. Coisa mais linda! Uma de cada cor”, ela relatava. Eu ouvia e imaginava como eram lindos os sombreiros coloridos circulando pelas ruas. Na minha cabeça de criança, parecia um carnaval multicolorido, com sombrinhas dançando frevo enquanto a água caia, insistente, do céu enevoado.
De tempos em tempos, de fusca amarelo, percorríamos os 250 quilômetros de distância para visitá-la. Mas, nos dias de chuva, por mais que eu estivesse pertinho e de olhos atentos, jamais consegui ver as folhas de alface crescendo.
Eu abria a porta e, lá da varanda "em L" da charmosa casa de minha vó, naquela época tão grande para mim, eu não enxergava muito. Sempre achei que fosse culpa da minha altura. Escalava os pilares, mas nunca era alto o suficiente para avistar o arco-íris. Pensava que, com o tempo, cresceria e poderia ver a maravilha do desfile de guarda-chuvas coloridos lá embaixo.<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7i7y0pSZZPCQehMa19vCi01nND_a5og-8849v-A7p-H8h8A0CoVJp3W0-lprJ5S81NjoUfGRRibDk9SDRyJnGU0KzjcOj_PQDTJe1DvJyQvifZfBUjqLQJYpdkiMYL8FU5KgmGLvH2poo29d_thCQHd9utxNwtzeV-TxmJofEoyRNk-oXtlZJhSr0ZmmH/s1032/V%C3%B3%20Maria%20varanda.jpeg" style="display: block; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="774" data-original-width="1032" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7i7y0pSZZPCQehMa19vCi01nND_a5og-8849v-A7p-H8h8A0CoVJp3W0-lprJ5S81NjoUfGRRibDk9SDRyJnGU0KzjcOj_PQDTJe1DvJyQvifZfBUjqLQJYpdkiMYL8FU5KgmGLvH2poo29d_thCQHd9utxNwtzeV-TxmJofEoyRNk-oXtlZJhSr0ZmmH/s320/V%C3%B3%20Maria%20varanda.jpeg" width="320" /></a></div>
Cresci e descobri que as folhas realmente se desenvolvem mais rápido quando chove, mas não se vê a olho nu, ainda mais com o afã da vida adulta. Notei também que os guarda-chuvas de fato invadem as ruas quando chove.
Aqui, no andar de cima, no centro da cidade, neste dia chuvoso, me dei conta que há sempre maneiras mais belas de narrar o cotidiano. Os dias chuvosos não precisam ser tristes nem cinzas. O brotar das folhas pode ser, sim, um milagre e não um fato corriqueiro da natureza.
Daqui do alto, bem mais alto do que a linda varanda “em L” da minha vó, percebo que a maioria dos guarda-chuvas é preta. As avós, além de tornarem as mesas mais doces, fazem do nosso pequeno mundo um lugar mais colorido. <div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiImR0CVOwV1vSqWn2_zARB7D4jwi1SB0di19z85sWKp1XzdcRSs8vzAWONw-mv-YxN6avIrkHaqPJjc27Jbf74vBv78KF8M3R7DTB2-tdNi_POLxYmpBaCZ0vEnKJJffIn1o0bnTr_NvSW22kdZi6t-xH4-h3yh2wtvVIrqXj1Hv6T1gpStxUSy2X8t2rt/s1080/Carol%20e%20Sirlene%20e%20av%C3%B3s.jpeg" style="display: block; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="830" data-original-width="1080" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiImR0CVOwV1vSqWn2_zARB7D4jwi1SB0di19z85sWKp1XzdcRSs8vzAWONw-mv-YxN6avIrkHaqPJjc27Jbf74vBv78KF8M3R7DTB2-tdNi_POLxYmpBaCZ0vEnKJJffIn1o0bnTr_NvSW22kdZi6t-xH4-h3yh2wtvVIrqXj1Hv6T1gpStxUSy2X8t2rt/s320/Carol%20e%20Sirlene%20e%20av%C3%B3s.jpeg" width="320" /></a></div>
Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-77009654994885673342023-08-09T12:26:00.004-07:002023-08-09T12:28:06.061-07:00BorboletarPor muito tempo eu fui monocromática. Por vários anos eu me escondi dentro de mim. Hoje sou cor. E quem me vê colorida não sabe de onde vem o arco-íris.
Os dias nove são de festa. Em um dia nove, no centro cirúrgico, como nascem os bebês, eu renasci. Mas, já nasci mulher feita, forte e determinada. Em vez de crescer, diminuí para poder caber em mim. Precisei renascer porque escolhi viver. E cada dia nove faz com que eu me renove, renasça e reflita. Desde aquele dia nove, eu me olho com mais amor.
As fotos, que para tantos são banais, para mim são desafios. Braços, pernas, sorriso a mostra... Hoje comemoro os registros de cada dia. Nem todos os dias são bons, mas há algo de bom todos os dias.
Não sou vencedora, jamais serei. Há batalhas que são eternas. Luto diariamente. Porém, a luta é, literalmente, mais leve e bonita.
Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-21716166671089610342023-06-06T20:18:00.017-07:002023-06-06T20:25:44.445-07:00Epitáfio à moda de SabinoAqui jaz a Carolina, que nasceu mulher e morreu menina.
Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-42787975524853975352023-06-04T08:57:00.000-07:002023-06-04T08:57:37.380-07:00Além do dendê<p></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: 12pt;">Findei ontem meu primeiro semestre letivo e amanhã
começo a ministrar um curso de férias.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Eu vim à Bahia para ensinar os "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">ei, bi, cis</i>", mas, até então, eu
pouco ensinei e muito aprendi. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O tempo aqui corre diferente. O sol levanta cedo para
fazer brilhar a Bahia, suas baías e os lindos baianos e baianas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Os ponteiros do meu relógio precisaram entender que o
tempo pode ser mais lento ou muitíssimo acelerado. Há muito a se fazer e mais
ainda a se viver. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">A vida é leve e o tempero é forte: É coentro, pimenta
e carinho para dar sabor e cheiro às panelas. Provei as frutas que até então só
conhecia na música de Alceu Valença. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">São João me puxa pela mão para bailar forró, sentir
cheiro de lenha ardendo na fogueira e ver o vento brincar com as bandeirinhas
coloridas sob o céu azul.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Virei “flor”, “amor”, “meu rei” e “meu dengo”... Virei
"pró"... E não há nota que não se arredonde [mentira!] e coração que
não derreta quando vem alguém com o rostinho de lado e os olhos medrosos
enunciando: "Ô pró, deixa eu lhe dizer...". <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">O abraço virou um cheiro... E como abraçar me cheira
bem! (Com o perdão do trocadilho!)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Passei a desejar crianças que chamem de
"mainha". <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">Aprendi a ter galhardia com quem negocia saídas para
os estudos junto aos seus patrões, nos pequenos comércios alvoroçados, que
funcionam das sete da manhã às sete da noite,<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>comandados por gente muito trabalhadeira. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;">A vida é uma professora muito melhor do que eu e
insiste em me fazer ver que aquilo que eu ignoro é muito maior do que o pouco
que eu sei.</span></p><p class="MsoNormal"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipY4uo_bKh-t0CmF3jm8XWAUYhKR8XldiqHMnUX5tr3kozvRhQbYn_YM0v5qlMGyn7V_RHhFRSl6-J6dw86F2dusBswHhDP7nSDsexy3kI4cvpFXFAmw27N7dH8GF5WNzzxEHYQi4k-JnCLwNptUvmbMYTaUGT7b3fTiGsMLFSpg_EMhru1ALa2B72JQ/s1564/autoavalia%C3%A7%C3%A3o%201.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1564" data-original-width="1564" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipY4uo_bKh-t0CmF3jm8XWAUYhKR8XldiqHMnUX5tr3kozvRhQbYn_YM0v5qlMGyn7V_RHhFRSl6-J6dw86F2dusBswHhDP7nSDsexy3kI4cvpFXFAmw27N7dH8GF5WNzzxEHYQi4k-JnCLwNptUvmbMYTaUGT7b3fTiGsMLFSpg_EMhru1ALa2B72JQ/s320/autoavalia%C3%A7%C3%A3o%201.jpeg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6xL2_jZDiDcjop8iOmmxczprz6eYEBZjRFupNTGusYoqs1xWefkHM05vNE6mHHAM8I9Ku1fSDc5Me9Fg_uqShcWMacPEU3JExtkN_tQKS7iR13j3VInreJijAcoFRyH8XYhjl-N6Vds47Kbimhsp3d4w5mlW28pUang8abfQt3LO_Lmy_AP3-ktOu1Q/s1564/autoavalia%C3%A7%C3%A3o%202.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1564" data-original-width="1564" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6xL2_jZDiDcjop8iOmmxczprz6eYEBZjRFupNTGusYoqs1xWefkHM05vNE6mHHAM8I9Ku1fSDc5Me9Fg_uqShcWMacPEU3JExtkN_tQKS7iR13j3VInreJijAcoFRyH8XYhjl-N6Vds47Kbimhsp3d4w5mlW28pUang8abfQt3LO_Lmy_AP3-ktOu1Q/s320/autoavalia%C3%A7%C3%A3o%202.jpeg" width="320" /></a></div><br /><span lang="PT-BR" style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR;"><br /></span><p></p><p></p>Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-35075058926436646602023-04-15T11:45:00.004-07:002023-04-15T11:45:54.119-07:00Viver<p> Viver é colecionar saudades. </p>Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-19155450273386639462023-03-15T10:15:00.001-07:002023-06-22T10:16:44.172-07:00Árvore genealógica Escravo e escrava; agricultor e agricultora, meus trisavós
Escravo e escrava libertos; agricultor e agricultora, meus bisavós.
Açougueiro e cuidadora de pensão; caminhoneiro e dona de casa, meus avós.
Professora e técnico florestal, meus pais.
Professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, eu.
É pelo trabalho e história de todos os que vieram antes que eu estou aqui. Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-34988276385438250432021-12-09T15:50:00.001-08:002023-06-06T20:28:59.265-07:00O mundo há de ser salvo<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgh984n21zV6VDytQemM_TWwJUJ0KLmhbMzungfpp2yGWR3w3UdyswJtzj0cwpbmyJOrPx83eYNxAEK0WZqHBwbV66cHvv3fdHjnUyC6ZgBmfDqSCcw4woQLuRcG1rY7r_NQ-Fzh7Xmet0fqf9yM1wnJ7vrGK7afpT4YabRTHjvikh0XFYCS8OZDl0Ugw=s1600" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="899" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgh984n21zV6VDytQemM_TWwJUJ0KLmhbMzungfpp2yGWR3w3UdyswJtzj0cwpbmyJOrPx83eYNxAEK0WZqHBwbV66cHvv3fdHjnUyC6ZgBmfDqSCcw4woQLuRcG1rY7r_NQ-Fzh7Xmet0fqf9yM1wnJ7vrGK7afpT4YabRTHjvikh0XFYCS8OZDl0Ugw=w180-h320" width="180" /></a></div><br />O mundo não será salvo por grandes heróis... O mundo será
salvo quando nós conseguirmos fazer com que as crianças se transformem em adultos
gratos pelo que aprenderam e por quem os ensinou. O mundo será salvo quando não
nos importarmos em nos desfazer de algo nosso para alegrar alguém. O mundo será
salvo quando soubermos dizer “eu te amo” livremente a quem nos toca o coração.
O mundo será salvo quando conseguirmos fazer com que as pessoas não percam a
doçura da infância frente às amarguras da vida.<p></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">O que me deixou tão esperançosa foram os presentes que meu
esposo recebeu no último dia letivo. Ele é professor do quarto ano do Ensino
Fundamental. Hoje chegou em casa com as mãos cheias e o coração transbordando.
Fiquei profundamente emocionada com os mimos recebidos. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Uma das crianças o presenteou com duas garrafinhas de
refrigerante, daquelas que são vendidas a noventa e nove centavos. Segundo ela,
“trouxe duas porque uma é para a sua esposa”. Ela deve ter investido o dinheiro
que tinha disponível e me presenteou sem ao menos me conhecer...<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Outra criança o presenteou com um apontador
usado. Certamente, tirou do próprio estojo para ter o que dar ao professor. Um dos
alunos deu-lhe figurinhas de papel jornal recortadas a mão. Havia também doces,
uma caneca, um creme para a pele e diversos bilhetes dizendo o quanto o
admiram. Várias cartinhas foram ilustradas com partes da tabuada: “Foi você que
me ensinou, professor”, explica uma delas. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Atitudes tão singelas me fazem acreditar que o mundo pode
ser salvo. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É preciso repetir: O mundo não
será salvo por grandes heróis... O mundo será salvo quando nós conseguirmos
fazer com que as crianças se transformem em adultos gratos pelo que aprenderam
e por quem os ensinou. O mundo será salvo quando não nos importarmos em nos
desfazermos de algo nosso para alegrar alguém. O mundo será salvo quando soubermos
dizer “eu te amo” livremente a quem nos toca o coração. O mundo será salvo quando
conseguirmos fazer com que as pessoas não percam a doçura da infância frente às
amarguras da vida. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-86505377829419666282021-05-26T16:31:00.005-07:002021-05-26T16:31:40.125-07:00(d)Escrita<p>Eu não escrevo para</p><p>Escrevo sobre...</p><p>Sobre a vida</p><p>Sobre ninguém</p><p>Sobre mim</p><p>Sujeita pós-moderna</p><p>Egoísmo sem fim</p>Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-31177980367661154542021-03-29T10:12:00.005-07:002021-03-29T10:12:46.957-07:00Par(t)ir<p>Escrevo porque a vida dói. E porque dói eu sei que [ainda] estou viva. </p><p>A morte é um parto que dura a vida toda. </p>Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-47434046853836009582021-03-18T14:54:00.008-07:002021-03-18T14:59:33.682-07:00Velórios são para os vivos <p><span style="background-color: white; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Velórios são momentos únicos. </span></p><p><span style="background-color: white; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">No
velório a tristeza impera, mas é também naquele ambiente que vemos os parentes
e amigos que há muito tempo não encontrávamos. O velório é uma festa sem
alegria. Os velórios são para os abraços. Os velórios são para os vivos. </span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Na minha
família não faltam histórias de velórios.</span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Ao
velarmos uma tia muito amada, suas cunhadas discutiam, na alta madrugada, se
poderiam ou não dormir, pois, por uma questão de flatulência incontrolável
durante o sono, era possível que acabassem com a solenidade do momento. Não houve
choro que não cessasse momentaneamente diante de tal diálogo. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Minha
irmã sempre erra o terço e eu, com as mãos no rosto, tento fingir que choro,
quando rio da falha recorrente, praticamente uma tradição. Já sugeri a ela que
tatue a Ave Maria nos punhos para evitar constrangimentos. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">No
velório de um tio muito querido, sua nora, muito prestativa, pegou a chave da
capela do cemitério para limpá-la. Disse aos parentes “de sangue” para não se
preocuparem. A gaveta foi cuidadosamente escolhida, nem muito em cima, para não
ter excesso de sol, nem muito embaixo, perto demais da terra. Asseou tudo para
que a morada eterna recebesse o sogro. Na hora do enterro, a confusão: ela
limpou a sepultura errada. Abriram o local certo às pressas e assim, entre
sorrisos e lágrimas, nos despedimos do tio amado. Esse mesmo tio ficou alguns
dias no hospital antes de falecer. Após o sepultamento, seu filho, que havia
ido ao hospital para resgatar os pertences do pai, vai até minha tia com um
embrulho. “Não sei o que fazer com isso”, diz, entregando à mãe. Ela abre, vê
uma prótese e ri descontroladamente: “Seu pai nunca usou dentadura. Você deixou
alguém banguela! ” A história provoca muitos risos sempre que é contada em
família e as conversas seguem com outros feitos protagonizados pelo saudoso
tio.</span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">No
velório relembramos as proezas de quem jaz e não pode mais relatá-las. Sempre
tem alguém para contar um causo que fará todos rirem ou suspirarem orgulhosos e
saudosos. Os mortos sobrevivem nas lembranças dos vivos.</span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Velórios
são temperados com lágrimas e sorrisos. Velórios são sobre os abraços que podem
ser dados e os que nunca mais serão possíveis.</span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Nos
velórios amamos com toda a intensidade. Velório é momento de reflexão. Ali
imaginamos como a vida será mais difícil, triste e sem graça sem esse
alguém. </span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Velórios
são um rito de passagem. São dolorosos porque, uma vez fechada a sepultura,
quem ali fica segue para a vida eterna e quem sai é condenado a voltar à vida
terrena e tão incerta. </span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">A
pandemia nos tirou o direito de velar nossos mortos e acalentar os vivos. Na
pandemia a despedida (e a falta dela) é ainda mais triste. </span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">***</span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">A quem
perdeu alguém querido e não pôde ser consolado, desejo que as boas lembranças
inundem seu coração e que em breve possamos nos abraçar.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-66913106819049664102021-01-26T11:15:00.003-08:002021-01-26T14:49:52.193-08:00O cu da professora<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwbkACjhw4czvP4tkOKXHovI5ixQajCjcWvcFWXzC8l5b2rRXd8y8WjfEdGENR4wC85UINZ6HJWUc4pTRmBHdfAKHvSiPOOzkalvvwpxzMR_b5mYtebG59YmkRKmTdDJNIuGkx0bul1M-b/s750/O+cu+da+professora.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="750" data-original-width="662" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwbkACjhw4czvP4tkOKXHovI5ixQajCjcWvcFWXzC8l5b2rRXd8y8WjfEdGENR4wC85UINZ6HJWUc4pTRmBHdfAKHvSiPOOzkalvvwpxzMR_b5mYtebG59YmkRKmTdDJNIuGkx0bul1M-b/s320/O+cu+da+professora.png" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p class="MsoNormal">Professor
em sala de aula é rico. Não em dinheiro, é claro, mas em histórias para contar.
São pérolas incomensuravelmente mais valiosas do que as raras joias das
vitrines e leilões...</p>
<p class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Em uma
manhã clara e gélida de inverno, o sol entrava pela janela da sala de aula da
velha escola. A poeira circulava magicamente, brilhando sob a luz do sol. As
crianças, no auge de seus oito anos de idade, com galochas, gorrinhos e luvas,
copiavam silenciosamente o conteúdo. Cada respiração era ouvida e vista, como
se o calor das mentes efervescentes provocasse uma reação química em contato
com o ar. Um dia perfeito, calmo e tranquilo para ensinar. A professora encheu
o quadro, muitas contas e problemas com enunciados complexos para resolver.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Mas, toda
sala tem aquele aluno malandro, que gosta de fazer piada e tem pavor de
silêncio. Enganam-se os que pensam que com seus abraços e boas notas estarão
para sempre na memória dos amados professores. Talvez em seus corações, mas não
na memória. Pelo contrário, os terríveis, os agitadores e baderneiros é que
serão para sempre lembrados. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Num momento
de distração da professora, o menino levantou-se de sua carteira, foi até o
quadro e circulou com giz colorido a sílaba CU, no meio da inofensiva palavra
cálculos. Risos e cochichos surgiram, despertando a atenção da mestra.
Protagonista de muitas histórias, a sílaba CU é tabu entre os professores mais
pudicos. Por estes, culto, culpa, cultura, cuidado e acuse podem ser usadas sem
restrições, mas as cuecas e cuscuz devem ser sempre evitadas pelo alvoroço que
podem causar. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Mas ali, na
turma da terceira série, na inocente palavra cálculos o cu gritava, destacado
pelo menino. Assim que a professora percebeu, e com a serenidade que lhe é
peculiar, falou: “Queridos, a sílaba CU é como qualquer outra e nos serve para
escrever muitas palavras: cupom, currículo, curso, curtir, curral, cultivo,
curva”. “Cuba também, né professora”, gritou um aluno (comunista, é claro!).
“Curitiba”, disse outro, sonhando com a capital. “Cubo”, complementou a garota
que se destacava em matemática. “Isso mesmo”, replicou a professora, com um
sorriso de aprovação. “O nome correto para isso que o colega está falando é
ânus e não cu”, explicou paciente. O silêncio imperou novamente diante da
palavra tão perversa e daquela grande revelação. Algumas risadinhas tímidas
escapavam, encolhidas atrás das pequenas mãozinhas enluvadas. Até que o
protagonista da história quebra o silêncio e provoca gargalhadas
incontroláveis: “Ai que chique! O cu da professora é ânus!” <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">PS: Se
você, assim como eu, achava que cu tinha acento, saiba que me surpreendi ao ser
corrigida: cu não leva acento. “A letra u só leva acento quando é a segunda
vogal de um hiato”, dizem os gramáticos. Ou seja, usei o cu errado vida inteira.
Verdade seja dita, o cu só encontra o a[ss]cento quando vai ao banheiro.</span></p><p class="MsoNormal">[Baseado em fatos reais... Como diria Manoel de Barros, só 10% é mentira, o resto é invenção]</p><p class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Texto: Carolina Filipaki</span></p><p class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Ilustração: Heleny Meiborg</span></p><p class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">(Publicado no Zine "Os", 2018)</span></p><p class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><br /></span></p><p></p>Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-387546274418316192020-09-10T20:02:00.001-07:002020-09-10T20:15:40.477-07:00Um ipê em flor<blockquote style="border: none; margin: 0 0 0 40px; padding: 0px;"><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGGZo_h5ML5INfC1eY6gRRCB4afVM5kqIbwBiypf3gmVJTFDCwfA0p9_rjjVqUfditRz_oykKksRWD8aq-pNMjiKTsTBbOQiiiaRl16AN-L_37NIQhcvA3ZDnR9oRnkuEPWUQc9IOGJOeZ/s1080/ip%25C3%25AA.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGGZo_h5ML5INfC1eY6gRRCB4afVM5kqIbwBiypf3gmVJTFDCwfA0p9_rjjVqUfditRz_oykKksRWD8aq-pNMjiKTsTBbOQiiiaRl16AN-L_37NIQhcvA3ZDnR9oRnkuEPWUQc9IOGJOeZ/s320/ip%25C3%25AA.jpeg" /></a></div><p></p></blockquote><p style="text-align: left;"><br /> Eu amo os ipês. Talvez porque, assim como eu, eles florescem em setembro. Quando eu nasci, os ipês alegravam o mundo e todos os anos vibram amarelos, fazendo a vida setembrar. Dos muitos privilégios que tive, crescer em um lugar onde os ipês dominam as paisagens, é de longe o mais bonito. Meu coração é saudoso pelas amizades e pelos ipês, ambos por suas sombras acolhedoras e cores que trazem à minha existência.</p><p>Eu, tão fraca e insegura, admiro a força e a resiliência destas árvores. Ipês são professores. Os ipês trazem com eles a exuberância da primavera, mostrando ao inverno, que depois dos tempos difíceis, depois de perder suas folhas e expor suas entranhas, é preciso florescer. Ipês são imponentes e suas flores, mesmo caídas, compõem as mais belas paisagens. </p><p>Quando vivencio grandes alegrias, minha mente se enternece e exulta, como brilham os meus olhos ao ver um ipê amarelo florido, contrastando com a grama verde e o céu azul. Não há no mundo visão mais singela e poética que a do ipê em flor.</p><p>Humana e, portanto, egoísta, sempre sonhei em ter um ipê para chamar de meu. Agora eu tenho. Lindo, ele ostenta suas primeiras flores em minha calçada e me presenteia em meu aniversário. Floresça sempre, meu ipê amarelo, brilhe alegre, seja primavera em pleno inverno para nos lembrar que a vida é linda. </p>Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-13709007018668401762020-07-21T07:14:00.000-07:002020-07-23T15:01:22.484-07:00As lições do crochê<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiYyRQeIGNrrax6at4RZ-pJUba_qTATq5rqmNBcEhLAtW1v24xPee7jHpAyMqLXv0Qw2wI9yGfSF92rM8gw3kTmw5_jSkbF7ZfWpDjZjXqVJrATARR5wD9cyMFUx7oMAbBh8em7hxL0s94/s1600/gorro.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: left;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiYyRQeIGNrrax6at4RZ-pJUba_qTATq5rqmNBcEhLAtW1v24xPee7jHpAyMqLXv0Qw2wI9yGfSF92rM8gw3kTmw5_jSkbF7ZfWpDjZjXqVJrATARR5wD9cyMFUx7oMAbBh8em7hxL0s94/s200/gorro.jpg" width="150" /></a></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst">
Eu fiz um gorro de crochê,
pequeno, demorado e, aos meus olhos, lindo.</div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle">
<span lang="PT-BR">Ao tecê-lo entendi que um
grande desafio exige paciência e que um trabalho pequeno pode ser um desafio colossal
para uma aprendiz iniciante. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle">
<span lang="PT-BR">Entendi que a primeira
experiência nem sempre é perfeita e, embora o resultado seja agradável, o percurso
não é totalmente prazeroso. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle">
<span lang="PT-BR">Errei diversas vezes. Erros
grotescos, erros pequenos, erros por falta de atenção. Alguns deles eu pude
consertar sem maiores consequências, mas entendi também que às vezes é preciso
recomeçar, trocar a agulha, o fio, repensar. Eu quis desistir e me irritei.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle">
<span lang="PT-BR">Eu mexia o fio
infinitamente para lá e para cá. Passava-o por cima, por baixo, desmanchava os
nós, mas o trabalho não rendia. A cada carreira finalizada, o media, na
esperança de atingir o tamanho ideal. Então, notei que uma carreira sozinha não
faz uma touca, mas o entrelaçamento cuidadoso do fio nos aquece. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle">
<span lang="PT-BR">Por fim, com o trabalho pronto,
aprendi que há erros que apenas eu, que teci cada ponto daquele gorro, consigo
notar. Outras falhas, somente os mais experientes conseguem identificar. <o:p></o:p></span><br />
<span lang="PT-BR">Eu decidi confeccioná-lo em um dia de muito frio. Ao terminá-lo, o sol brilhava e o calor nos aquecia. Se eu tivesse prestado atenção na lição da fábula da cigarra e da formiga, saberia que é durante o verão que devemos nos preparar para o inverno. </span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpLast">
<span lang="PT-BR">Aos olhos da maioria é um
simples gorro. Para mim, um processo, uma aprendizagem, uma conquista. Eu fiz
um gorro de crochê e ao tecê-lo aprendi a viver. <o:p></o:p></span></div>
<br />Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-22990381265704110582020-07-01T12:48:00.000-07:002020-07-01T12:48:04.828-07:00Infinitos<br />
<div class="MsoNormal">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqZsc3va06Xvovn7Z_vjcAAJqHbdEx6wTDQE_2ZwyL2tiZV9cukCj3BRg9w6PRecmfLnb7nCAtV-ANjOKVTYRdpsRzziS9gIvhHE_tFUC_aPYEU6WiJPgovDgPrQnR9CCWeLefyy2Wi2SG/s1600/infinitos.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="750" data-original-width="954" height="251" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqZsc3va06Xvovn7Z_vjcAAJqHbdEx6wTDQE_2ZwyL2tiZV9cukCj3BRg9w6PRecmfLnb7nCAtV-ANjOKVTYRdpsRzziS9gIvhHE_tFUC_aPYEU6WiJPgovDgPrQnR9CCWeLefyy2Wi2SG/s320/infinitos.png" width="320" /></a><span lang="PT-BR" style="color: windowtext;">Eu moro em <b>Irati</b>,
no interior do Paraná. Minha cidade tem <b>60 mil habitantes</b>. Dentre eles, muitas
pessoas que eu amo, grandes amigos, outros apenas conhecidos, alguns desafetos
e outros com os quais meus caminhos nunca se cruzaram. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext;">Hoje,
oficialmente, somaram-se 60 mil pessoas no Brasil que perderam a vida para uma
doença invisível e de nome esquisito, que muitos duvidam existir. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext;">É como se <b>todos os
moradores</b> da cidade, do campo e dos mais distantes lugarejos que integram Irati
tivessem sumido do mapa, sem ninguém restante para contar nossas histórias. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext;">Tem gente dizendo
que é pouco em um contexto de 210 milhões de brasileiros. Mas, para mim, <b>um</b>, o
número <b>1</b>, quando representa <b>uma vida</b>, é muito. Mais do que muito, pode também
ser tudo na vida de um outro alguém: uma mãe, um pai, um filho, um companheiro... </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext;">Enfim, cada ser, em sua singularidade e pequenez, é o <b>infinito</b> na vida de
alguém. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext;">É na infinitude
dos sentimentos abstratos e intocáveis que a vida se engrandece. É também na
infinitude do sentimento de saudade que a dor é maior. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext;">Eu lamento, me
comovo e choro pelas 60 mil vidas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext;">Eu lamento, me
comovo e choro pelos 60 mil infinitos que se findaram. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<br />Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-87028941627558346912020-04-12T14:46:00.000-07:002020-04-12T14:46:17.784-07:00O carro do sonho<br />
<div class="MsoTitleCxSpFirst">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">O carro do sonho ia passar pela minha rua. Isso nunca
havia acontecido. Ouvi de longe a sua chegada. Anunciava sonhos de vários
tamanhos e assegurava agradar as pessoas de todas as idades.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Desci as escadas correndo, pensando em todos os sonhos que
poderia encontrar. Deixei a porta e o portão abertos por descuido, mas tenho
certeza que era o destino deixando a passagem livre para os sonhos entrarem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Quando ele dobrou a esquina, parecia-me um carro forte o
suficiente para carregar os melhores sonhos do mundo. Era velho, amassado,
batido, como um carro que carrega sonhos deveria ser. Se carregar sonhos fosse trabalho
leve, não nos arrastaríamos a vida toda com(tra) alguns. Trazia na lataria
remendada as marcas dos sonhos mais difíceis. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Corri ao seu encontro, afinal, não se pode esperar que os
sonhos venham ao nosso portão. É preciso esforço para merecê-los. Cheguei
ofegante e, assim que ele me viu, parou para mim. Desceu dali um senhor gordo, camisa aberta até o umbigo, suor escorrendo na testa, os pelos do peito saltavam para fora, mostrando em
sua cor acinzentada que há muito tempo este senhor carregava os melhores sonhos
do mundo em sua parati. Meu coração batia fora de ritmo e uma lágrima fazia-se
pesada em meu olho. No fechar de uma pálpebra ela cairia como cataratas lavando
meu rosto. Mas eu não piscava, talvez nem respirasse naquele momento infinito. Quando
ele abrisse o porta-malas eu teria que escolher, dentre todos os sonhos que
tinha, um, apenas um. Como escolher? Transpirava e tremia, ansiosa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">“Boa tarde, minha filha!”, ele me disse. Era como se o Tempo
falasse comigo. Eu imaginava o Tempo como um senhor elegante, com um relógio de
bolso, a nos controlar. Mas a vida é mestra em nos surpreender. O Tempo era estranho
como o velho que eu via sentado na praça observando o tempo passar. “Temos
poucas opções agora. Os sonhos são frescos e feitos todos os dias. No final da
tarde é o que tem”. O Tempo me ameaçava dizendo que eu não teria muitas
escolhas. “Nem sempre a vida nos dá opções”, pensei. Mas eu tive a certeza de que
meu sonho estaria ali, porque a cada aurora meus sonhos se renovavam. Eram
sonhos novos, como os que eu queria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">O porta-<s>malas</s>-sonhos da parati abriu-se rangendo,
causando-me um arrepio na espinha. O cheiro doce da realização saia ali de
dentro. Havia açúcar para todo lado. Sempre imaginei que as conquistas seriam
doces e açucaradas, seriam um lambuzar-se e terminar satisfeita, com um bigode
de açúcar e dedos lambidos. Os cestos estavam cobertos com toalhas xadrez,
vermelhas e brancas, como em um piquenique perfeito, em um parque com sombras, grama
verde e céu azul. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="color: windowtext; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">“Vai querer de creme ou goiabada?”, indagou. “Gosto apenas
dos sonhos de doce de leite”, respondi ainda tonta, golpeada pela desilusão e
pelo odor de fritura. Voltei para casa de mãos vazias, peito arrasado e costas
pesadas porque cabe a mim, apenas a mim, carregar o peso dos sonhos não
realizados.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<br />Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-23561245046264280552020-03-11T23:30:00.000-07:002020-07-23T14:57:34.843-07:00Discurso de paraninfa do curso de Letras Inglês - UNICENTRO 2020<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 20.0pt; line-height: 150%;">Querid@s alun@s, recebo esta missão de
fazer-lhes uma última aula com humildade e emoção. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 20.0pt; line-height: 150%;">Vocês são, agora, professoras e
professores! Há algo mais lindo do que isso? Por isso eu repito: Vocês são
agora professoras e professores. A partir deste momento vocês dividem conosco a
grande responsabilidade que é o ato de educar em um país que tanto limita a
educação do seu povo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dzrojj2NfsnDmMwoKAMkgTlNzPI7KpAl79Q137_1Dyp-2Y74uSCNRGsZxcFQelFs77f0UTYEdr8LCWDuXxNog' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe><span lang="PT-BR" style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 20.0pt; line-height: 150%;">Ouvimos repetidamente que a educação
no Brasil não deu certo. Uma deputada federal de nosso estado recentemente
disse que </span><span lang="PT-BR" style="background: white; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 20.0pt; line-height: 150%;">investir mais dinheiro na educação seria como colocar
mais água em uma mangueira gigantesca e cheia de buracos. Ela finalizou sua
fala dizendo que “nossos professores não sabem ensinar”. É dolorido e muito
triste ouvir opiniões degradantes de quem não conhece o chão e a poeira do giz de
uma sala de aula. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 20.0pt; line-height: 150%;">Por isso eu lhes digo, cuidado!
Cuidado queridos graduados, para não reafirmarem este discurso que serve de
justificativa para privatizações e para a desvalorização de nosso trabalho e
carreira. Defendam a educação pública! Olhem para as suas histórias e encontrem
nelas o contraditório! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 20.0pt; line-height: 150%;">Quando eu vejo aqui, no
interior do Paraná, que os filhos de pequenos agricultores e assalariados, assim como os
filhos dos ditos doutores, conquistam diplomas universitários, tenho a certeza
de que a educação está dando certo. Olhar para vocês deixa-me convicta de
que a educação pública deu certo e prosperará!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 20.0pt; line-height: 150%;">Escolher uma carreira na educação é
uma escolha corajosa no Brasil atual. Escolher a educação é acreditar em um
futuro melhor, em que a terra voltará a ser esférica, o Di Caprio será apenas o
protagonista do Titanic e os livros didáticos estarão cheios, repletos, infestados
de palavras! Palavras de rebeldia, de enfrentamento, de feminismo, de
igualdade, de diversidade, de fraternidade e de transformação!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 20.0pt; line-height: 150%;">Como professora, afirmo que nós,
profissionais que fizemos parte de sua formação, temos muito orgulho de vocês.
A sua conquista representa muito para nós porque aprendemos com vocês muito
mais do que ensinamos. Eu aprendi com a dedicação de quem viajou toda noite
durante quatro anos para estar nas aulas. Aprendi quando vi vocês trazendo marmitas
de casa para economizar com a <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">alimentação</b>.
Aprendi com as suas dificuldades, pois elas demonstraram as minhas falhas.
Aprendi quando vocês me fizeram perguntas que eu não soube responder porque aquilo
que eu ignoro é muito maior do que o pouco que eu sei. Os meus alunos que
estão vindo depois de vocês terão uma professora melhor e por isso, além de meu
orgulho, levem com vocês a minha eterna gratidão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 20.0pt; line-height: 150%;">Vocês são a prova de que a educação pública
e gratuita tem qualidade, vai bem e com vocês nas salas de aula, irá ainda
melhor. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqHKd0xA5FyHh8JEQBTd5FPam_x8QaU8S1ORTUdFtP4eNlTaexFuYHWhu-SQ98fMCNU-Jc9BqX2sZzRyszhTDtNjRoLbhQ5CZk40bCQfuKIh12Y9xMfPuyEWsgVK_e1m2msoNh-MPxY1Eu/s1600/formados.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1060" data-original-width="1600" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqHKd0xA5FyHh8JEQBTd5FPam_x8QaU8S1ORTUdFtP4eNlTaexFuYHWhu-SQ98fMCNU-Jc9BqX2sZzRyszhTDtNjRoLbhQ5CZk40bCQfuKIh12Y9xMfPuyEWsgVK_e1m2msoNh-MPxY1Eu/s320/formados.jpg" width="320" /></a><span lang="PT-BR" style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 20.0pt; line-height: 150%;">Voem alto! Leiam muito, questionem e
revolucionem! Façam ciência! Libertem mentes, inovem e sejam felizes! Tomem
suco de laranja! E tomem cerveja também!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 20.0pt; line-height: 150%;">E lembrem-se: Gritem alto, forte e
em bom som: “Você não” para todos aqueles que desvalorizam o <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">saber </b>docente! “Você nunca” para quem
não acredita em educação! E digam com uma força maior ainda: nós somos mais
fortes! O conhecimento e a educação sempre, sempre vencerão!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 20.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 20.0pt; line-height: 150%;">(Discurso proferido por ocasião da cerimônia de colação de grau do curso de Letras-Inglês e demais cursos do setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, da UNICENTRO (Universidade Estadual do Centro-Oeste), realizada em 11 de março de 2020). </span></div>
<br />Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-84184161916240545102018-04-05T20:27:00.000-07:002018-04-06T05:40:33.704-07:00Where inspiration is<br />
<div class="MsoNormal">
Hoje, num
dia tão triste para a história do nosso país (05 de abril de 2018), vivi um
momento de muita alegria, de realização e certeza. Meu coração acordou
acelerado, ansioso, esperançoso.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Entrei
novamente em uma sala de aula. Mas entrei diferente, transformada e decidida a transformar.
Como aluna, minha primeira chegada à escola foi aos dois meses de idade. Como
professora, aos dezessete anos. E hoje, entrei pela primeira vez em sala de aula
como docente no Ensino Superior, na universidade que me proporcionou duas
graduações e um mestrado. Universidade pública, gratuita e que sofre com os
descasos daqueles que deveriam apoiá-la. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Não sei se aqueles minutos foram tão
bons para os alunos quanto para mim. Só o tempo irá dizer. Mas, este momento trouxe-me
a certeza de que estudei até aqui e quero continuar estudando para exercer e
defender esta profissão tão linda – tão carente de atenção ultimamente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Descobri o
que muitos já sabiam: a inspiração está nas coisas que amamos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">“Feliz
aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina” – Cora Coralina. Que
este seja meu lema e atitude, que todos os dias eu saiba ensinar e aprender. <o:p></o:p></span></div>
<br />Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-5559288770518015812018-01-15T04:49:00.000-08:002018-01-15T04:56:37.739-08:00O que nos faz mulheres?<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="PT-BR" style="background: white; color: #222222; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt;">O que nos faz mulheres? </span><span lang="PT-BR" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="PT-BR" style="color: #222222; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt;">Os filhos que parimos ou os que abortamos?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="PT-BR" style="color: #222222; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt;">O que dizemos ou o que silenciamos?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="PT-BR" style="color: #222222; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt;">As pessoas com quem dormimos ou aquelas às quais nos
negamos?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="PT-BR" style="color: #222222; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt;">Os poemas que lemos ou os que ignoramos?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="PT-BR" style="color: #222222; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt;">O pranto que vivemos ou as lágrimas que guardamos?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="PT-BR" style="color: #222222; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt;">O corpo com o qual nascemos ou o que conquistamos?<o:p></o:p></span></div>
Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-67660468415529141382018-01-15T04:41:00.002-08:002018-01-15T04:41:19.977-08:00Conhecimento<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="PT-BR" style="color: #222222; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 9.5pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Aquilo que eu ignoro diz mais sobre mim do que tudo o
que eu sei. <o:p></o:p></span></div>
Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-88123591296191364422016-11-30T04:32:00.001-08:002016-11-30T04:32:23.862-08:00Os restos da sociedade<div class="MsoNormal">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirmaJrrMPAN7lVQ6pkQlfwWfRLnPvjuLBekyY57rSFk8lnX7fzcoDJqpV1WuQ83hOLWZDhvyiNx72nsq2hRqA715uCWaY2wcyLvVxmQdgzZEXnPTMVJX1zhM4oxuR0Ah5RytprgFF2JDIm/s1600/parto.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirmaJrrMPAN7lVQ6pkQlfwWfRLnPvjuLBekyY57rSFk8lnX7fzcoDJqpV1WuQ83hOLWZDhvyiNx72nsq2hRqA715uCWaY2wcyLvVxmQdgzZEXnPTMVJX1zhM4oxuR0Ah5RytprgFF2JDIm/s200/parto.jpg" width="137" /></a>Nasceu. Seco. Sem lágrimas. Não houve espera. Não houve
berço preparado. Alguém deu à luz. Ninguém deu-lhe a luz. Nasceu pobre. Nasceu
filho da puta. Nasceu filho da amante. Filho de chocadeira. Filho do boto. Nasceu
bastardo. Nasceu sem pai. Nasceu sem pensão. Nasceu sem fraldas. Nasceu como
erva daninha que brota sem semear. Nasceu sem roupas. Nasceu sem bolsos. Nasceu
sem moedas. Nasceu sem notas. Nasceu sem teto. Fruto do aborto proibido. Cria
do macho reprodutor. Rebento do pecado original. Nasceu sem sentimento. Nasceu
desprezado. Nasceu sem nome. Nasceu sem descendência. Nasceu sem árvore
genealógica para montar na escola. Filho de gente ruim. Nasceu abandonado.
Carrega no sangue a ruindade. Não vai prestar. Melhor não adotar. Nasceu como a
comida que resta no prato. Nasceu fadado ao lixo da sociedade. Nasceu para perpetuar a desigualdade.
Eles nascem todos os dias. </div>
<o:p></o:p><br />
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-45999080953927406202016-07-01T18:08:00.000-07:002016-07-01T18:08:03.389-07:00Estamos amando demais e sentindo de menos<div class="MsoNormal">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAAjC6OXxKmlMPNkT8Bj4ea8m_ChQ_82AoKEcps_kjtsNUuJSXqt5NhtVKXyNFsTs637pINljDDxxSFnBfA3BNFNU7RQ0rXe39y-fXG64Uxqv9QrG3VFkn9rvyBYouQ7zRQ3D4pY5TWbZA/s1600/facebook-reactions-menor-g1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="206" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAAjC6OXxKmlMPNkT8Bj4ea8m_ChQ_82AoKEcps_kjtsNUuJSXqt5NhtVKXyNFsTs637pINljDDxxSFnBfA3BNFNU7RQ0rXe39y-fXG64Uxqv9QrG3VFkn9rvyBYouQ7zRQ3D4pY5TWbZA/s320/facebook-reactions-menor-g1.jpg" width="320" /></a>Estamos amando demais e sentindo de menos. Uma frase
repetida incomoda, mas milhares de <i>emoticons
</i>tornam o dia mais feliz. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Depois que o facebook incluiu a opção de amar as postagens,
passamos a amar infinitamente, sem limites, sem preconceitos, sem pensar. Amamos a foto da melhor amiga, amamos os amores alheios, amamos a
citação que nem sabemos se é realmente de Exupéry, de Clarice Lispector ou de
Fernando Pessoa. Amamos tudo aquilo que nos parece bonito. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p>Não nos contentamos com o <i>like</i>, quisemos mais e eles nos deram. Podemos amar, sentir raiva,
chorar, rir e nos surpreender com um<i> wow</i>
aportuguesado que só este mundo digital pode nos proporcionar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Em um mundo de relações tão passageiras, o amor está em todo
lugar e em lugar nenhum. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Se eu amo uma postagem qualquer, o que eu sinto pelas
pessoas que estão próximas de mim? Eu amo uma frase e daqui a meia hora não
lembro mais daquilo que fez meu coração bater mais forte. Este mundo de efemeridades
nos torna superficiais, sensíveis demais e cada vez menos profundos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
É fácil amar o mendigo no vídeo com milhares de
visualizações no <i>you tube</i>, difícil mesmo é oferecer-lhe coraçõezinhos
cor-de-rosa quando ele passa malcheiroso por nós no caminho da boutique. </div>
<o:p></o:p>Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-14060708217715445882014-07-22T05:21:00.002-07:002014-07-22T05:21:53.008-07:00Distração<div align="left" class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Conta-se por aí, a peripécia de um prefeito que
precisou viajar para uma importante reunião em Curitiba. O homem se
produziu para o encontro, afinal, prefeito de primeira viagem, conversaria pela
primeira vez em uma reunião privada com o governador. Era sua oportunidade de
mostrar tudo aquilo que sabia e que sua cidade precisava. <o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Terno bem passado, camisa nova e gravata compunham
seu figurino, cuidadosamente pensado para a ocasião. Combinou com o motorista
que almoçariam no caminho, evitando atrasos. <o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Conforme já estabelecido, pararam para almoçar na
cidade de Palmeira. Desceram e foram direto ao <i>buffet</i> para se servir. Seguindo o conselho da esposa, não colocou
no prato nenhuma comida com molho, para evitar respingar em sua roupa, como
costumeiramente acontecia em casa. Conhecendo bem o marido que tinha, a esposa
cuidadosa fez que ele levasse consigo uma camisa extra, caso o molho do
macarrão ou o caldo do feijão manchassem a que vestia.<o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPh5SoRr_7YgBGZStfIcB9loD5sdF1OONyCQQFYLtvzAHbFfQw-vAsArMpRJ976cGktcckBlxR9469nifBgU5eToIhhC5NfpRT9DJceID2HZA-endaDUNq5R5ZLD3IeKVcAPj5wNIIjmIS/s1600/ilustra%C3%A7%C3%A3o+la%C3%A9rcio.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPh5SoRr_7YgBGZStfIcB9loD5sdF1OONyCQQFYLtvzAHbFfQw-vAsArMpRJ976cGktcckBlxR9469nifBgU5eToIhhC5NfpRT9DJceID2HZA-endaDUNq5R5ZLD3IeKVcAPj5wNIIjmIS/s1600/ilustra%C3%A7%C3%A3o+la%C3%A9rcio.jpg" height="320" width="232" /></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O prefeito terminou sua refeição antes do motorista
e foi buscar uma sobremesa que lhe pareceu muito apetitosa, quando serviu-se do
almoço no <i>buffet</i>. Foi então que o
motorista o olhou e percebeu o que havia acontecido. Logo que o chefe retornou
à mesa, discretamente ele lhe disse:<o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">“Prefeito, o senhor está com os sapatos trocados.
Um pé de um e um pé de outro”. <o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Um sapato era marrom, o outro preto. O prefeito
olhou para os pés e colocou as mãos na cabeça:<o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">“E agora, como vamos fazer?”<o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">“Já estamos longe, acho que não adianta voltar”,
disse o motorista, calmamente.<o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">E o prefeito respondeu bravo, achando a ideia de
voltar muito absurda:<o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">“Mas é claro que não adianta voltar! Pois lá também
ficou um pé de um e um pé de outro!”.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div align="left" class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Como dizia minha mãe quando lia para mim
historinhas infantis,<!--[if gte vml 1]><v:shapetype
id="_x0000_t75" coordsize="21600,21600" o:spt="75" o:preferrelative="t"
path="m@4@5l@4@11@9@11@9@5xe" filled="f" stroked="f">
<v:stroke joinstyle="miter"/>
<v:formulas>
<v:f eqn="if lineDrawn pixelLineWidth 0"/>
<v:f eqn="sum @0 1 0"/>
<v:f eqn="sum 0 0 @1"/>
<v:f eqn="prod @2 1 2"/>
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelWidth"/>
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelHeight"/>
<v:f eqn="sum @0 0 1"/>
<v:f eqn="prod @6 1 2"/>
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelWidth"/>
<v:f eqn="sum @8 21600 0"/>
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelHeight"/>
<v:f eqn="sum @10 21600 0"/>
</v:formulas>
<v:path o:extrusionok="f" gradientshapeok="t" o:connecttype="rect"/>
<o:lock v:ext="edit" aspectratio="t"/>
</v:shapetype><v:shape id="Imagem_x0020_1" o:spid="_x0000_i1025" type="#_x0000_t75"
alt="https://mail.google.com/mail/u/0/images/cleardot.gif" style='width:.75pt;
height:.75pt;visibility:visible;mso-wrap-style:square'>
<v:imagedata src="file:///C:\Users\Carolina\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image001.gif"
o:title="cleardot"/>
</v:shape><![endif]--><!--[if !vml]--><img alt="https://mail.google.com/mail/u/0/images/cleardot.gif" height="1" src="file:///C:/Users/Carolina/AppData/Local/Temp/msohtmlclip1/01/clip_image001.gif" v:shapes="Imagem_x0020_1" width="1" /><!--[endif]-->
“e</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ssa
história entrou por uma porta e saiu pela outra. Quem souber, que conte outra”.</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-17619088919520420112014-03-19T09:33:00.002-07:002018-04-29T17:22:07.766-07:00Quando os anjos falam<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">O
último adeus faz até os corações mais insensíveis esmorecerem. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Caminhamos
com o grupo, ouvindo apenas o som dos paços pelo cemitério. Logo chegamos ao
túmulo. Ficamos mais atrás, acompanhando de longe a cerimônia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Ela
tinha uma saúde de ferro, faltando poucos dias para seus 92 anos, sua lucidez
impressionava. <span style="background: white;">"Eu adoro cantar", ela
contava, emendando uma reclamação: "Não sei por que na igreja não
distribuem mais aquele livrinho Louvemos ao Senhor, era tão bom". <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Lembrando disso, suas amigas de cantorias e missas soltaram a
voz. "</span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Não
temas, segue adiante e não olhes para trás, s<span style="background: white;">egura
na mão de Deus e vai". Foi então que vozinha fina e doce me questionou:
"O que elas estão falando tão alto?". Aqueles olhos azuis
inquisidores e a seriedade de seu rosto, em meio aos cabelos cacheados, me
mostravam que eu não poderia deixar de responder. "É uma música. A vó
Guenha gostava muito de cantar", disse eu. "Eu <i>quelia</i> ver". Diante daquele pedido, a peguei no colo para que
pudesse ver o que estava acontecendo lá na frente. Mostrei as amigas de sua
bisavó, que cantavam para se despedir dela da forma que mais gostava.
"Você sabia que as pessoas que já estão <i>molidas</i> ficam nessas caixinhas?", disse-me, apontando para os
túmulos, como quem conta um segredo que só ela sabia. "Aham", eu
respondi, intimidada com a naturalidade que aquela pequena falava da morte.
"Eu <i>quelia</i> ver a caixinha da
bisa". "É ali na frente", mostrei.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQHakkKH2KYmi5dADpndFFkHhjp2DALbh6iB3KZYB8rItah1znpcu-JHlGl0p8w2WbO2GFK-ulTtku7F2OrCAgvoHoRPadMZ01AwmsjjRiixJ4QhKpoJJkVQyTWf_Zd2BHTR9YXWhRYvGy/s1600/Quando+os+anjos+falam.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQHakkKH2KYmi5dADpndFFkHhjp2DALbh6iB3KZYB8rItah1znpcu-JHlGl0p8w2WbO2GFK-ulTtku7F2OrCAgvoHoRPadMZ01AwmsjjRiixJ4QhKpoJJkVQyTWf_Zd2BHTR9YXWhRYvGy/s1600/Quando+os+anjos+falam.png" width="226" /></a><span style="background: white; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Logo depois, as senhoras do coro decidiram cantar em polonês,
a língua materna da minha tia avó. "Essa música era uma das que a dona
Guenha mais gostava, ensinou até o netinho a cantar", explicou uma das
senhoras antes de começar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">"E agora, o que elas estão falando?", questionou a
pequena ainda em meu colo. "Elas estão cantando uma música em polonês que
a vó Guenha gostava muito", respondi. "Gostava muito dessa música?",
indagou novamente para ter certeza da resposta. "Sim, ela gostava muito
dessa música". Então, como se compreendesse a solenidade daquele momento e
soubesse que aquele era o último instante de sua bisa neste plano, sem saber
uma única palavra em polonês, ela começou a cantarolar, seguindo o ritmo das
amigas da avó. Cantava como se conhecesse a melodia. Segurei as lágrimas. Não
se deve chorar com uma criança tão linda e esperta em seu colo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Quando a canção terminou, seus olhinhos novamente me fitaram.
"Você acha que ela gostou? Acha que ela está muito feliz?". Então
compreendi que quando os anjos falam não há quem não se emocione. Sorri e
concordei, ela certamente estava muito feliz.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Sem receios, apesar das minhas lágrimas, ela continuou.
"Aquelas fotos são das pessoas que já estão <i>molidas</i>", apontou. "Sim, elas servem para que nos
lembremos das pessoas que estão aqui", disse eu. "Hmmm... eu nunca
vou esquecer", disse incisivamente. Logo depois bateu as asas, saiu do meu
colo e correu para os braços do avô, curiosa para ver a "caixinha" da
bisa.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Texto: Carolina Filipaki</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><span style="background-color: white;">Ilustração: Laércio Soares</span></span></div>
Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1209991684613154600.post-22268532970834310782013-10-10T08:51:00.001-07:002013-10-10T08:51:28.513-07:00AnoiteceuJá sinto o cheiro das estrelas e o brilho do orvalho. <br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhETpgBAKNWNmJOXiThxEl9tkSj21iM6tFIO2CXMZuCeGZZEfUYSkr60CE5F7bbzCKGa2qcnDpZsYl_lZlgdP-BEmyR5o2_SO_hyphenhyphenT8BgWKKdvFq-neF5pq2mESiUBGMLlbjfdgs7ddvTj4q/s1600/DSC06728.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhETpgBAKNWNmJOXiThxEl9tkSj21iM6tFIO2CXMZuCeGZZEfUYSkr60CE5F7bbzCKGa2qcnDpZsYl_lZlgdP-BEmyR5o2_SO_hyphenhyphenT8BgWKKdvFq-neF5pq2mESiUBGMLlbjfdgs7ddvTj4q/s320/DSC06728.JPG" width="320" /></a></div>
<br />Carolina Filipakihttp://www.blogger.com/profile/14339013982417131826noreply@blogger.com0