quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Campanha - Sonhe com o meu namorado

Outro dia minha mãe andou sonhando que eu estava namorando. Diz ela que o cara era loiro, alto, bonitão.

- Então ele era gostosão, mãe? - perguntei.

- É... Nessa linguagem de vocês...

Hoje recebi de uma amiga um e-mail.

“Carol, Carolzinha, Carolzona...
O motivo deste email é que sonhei contigo. A noite inteiraaaa, sua chata! Nem pra dar um espaço para o Cauã Reymond (é assim que se escreve???). Pois é, sonhei com você e com a Lígia! A noooiiiiteee inteeeiraaaa. Até acordei cansada das nossas aventuras.
Bem, sonhei que era o meu aniversário e que estava chovendo, não havia nada pra fazer... enfim, e vocês tentavam levantar o meu ânimo. Passamos o meu sonho procurando roupas, vagando pelas ruas molhadas de uma cidade qualquer (mistura de Guarapuava com Buenos Aires e pitadas de São Paulo – típicos sonhos de Michele) e você estava namorando! Quem? Não lembro, só sei que era um cara riquíssimo”.


Isso me intrigou. Então respondi:

“Huahuahuahuahu
Minha mãe também andou sonhando que eu estava namorando. Você já tem mais detalhes, ele é rico. Vou esperar o próximo sonho de alguém com mais alguma característica. Assim, enfim, identificarei o homem da minha vida. O difícil vai ser bater nas costas dele, me apresentar e explicar para ele como eu descobri que somos almas gêmeas”.


E ela sugeriu:

“Os sonhos com a sua "alma gêmea" dão para o blog, vai por mim. Dá pra colocar enquete ou pedir que a galera tente adivinhar as características do dito cujo”.

Sugestão aceita. Desta forma, está iniciada a campanha: Sonhe com o namorado da Carol e ajude-a a identificá-lo. Espero que tenhamos sorte. Espero os relatos ou, no mínimo, os comentários.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Invisível

Como muitas em todo o país, ela tinha o perfil Bolsa Família. Mal vestida, negra, cabelo ruim. Talvez se chamasse Maria. Era magra, tão magra que se pudéssemos ver suas canelas escondidas debaixo das calças largas, talvez não compreendêssemos como suas pernas conseguiam sustentá-la. Era pobre, não cheirava bem. Embora a sala estivesse cheia, ela parecia ser a única. Foi chamada de louca.

Todos se incomodaram enquanto a tal louca falava ao mesmo tempo que o prefeito. “Meu Deus, que desrespeito!” – resmungavam. Enquanto eu respondia mentalmente: “E quanto desrespeito ela já não passou na vida?”.

Quando um celular tocava - no aparelho que só ela via em sua mão - ela atendia a chamada. Contava ao ouvinte onde estava e o mantinha informada sobre tudo o que o prefeito dizia. Certa vez ficou brava, pois parece que era sempre a mesma pessoa que ligava. “Já não te disse que estou numa reunião importante? Pare de me ligar. Não posso parar o negócio aqui toda hora pra te atender". Alguns riram, outros ficaram constrangidos, afinal, enquanto ela sonhava que seu celular desviava a atenção da palestra, o deles realmente o fazia.

Enquanto o prefeito reclamava, cheia de boa vontade ela dizia: “Quando eu ganhar um milhão vou acabar com tudo isso. Você vai ver. Vocês todos vão ver. Vou dar um jeito nisso. Vou dar dinheiro pra todo mundo, mas é só pra quem merece”. Nesta hora, alguns previram que seus bolsos continuariam vazios.

Fico pensando em quantas vezes aquela senhora já foi invisível. Quiçá esta tenha sido a primeira vez que foi vista e ouvida.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Hoje acordei gorda

Levantei, olhei no espelho e constatei: hoje acordei gorda, feia, pobre, burra, infeliz e com o cabelo ruim. Tem dia que é assim, as rugas começam a aparecer. Os pneus estão calibrados. O manequim não entra. Os problemas não se resolvem.
Eu derrubei a carteira aberta e as moedas voaram pela rua. Ana Paula Padrão está na Record e eu aqui. Aquele aluno insuportável acordou de pé esquerdo. Falando em pés, bati minha unha encravada assim que levantei.
Tem dias que é assim, a gente acorda burra. Parece que tudo o que aprendemos ficou no travesseiro. Eu esqueci como se fala choramingar em inglês. Só lembrei agora que já não preciso mais disso. O entrevistado não ligou. A matéria não saiu. O computador não ajuda.

‘Hoje acordei gorda’ (Florence Stelle, editora Rocco) é um livro do qual gostei muito. Acordar gorda não é uma questão de manequim, é estado de espírito.