sábado, 5 de outubro de 2024

Cadeiras de plástico

Você já visitou a câmara de vereadores ou a prefeitura da sua cidade? Como são as cadeiras nas quais seus representantes políticos se sentam? Quão confortável é a cadeira do vereador que você elegeu, na qual ele se senta por poucas horas durante a sessão legislativa semanal? 

Certamente, não é uma cadeira de plástico. Afinal, quem gosta de se sentar em cadeiras de plástico? Quem fica confortável em uma daquelas cadeiras brancas, cujos pés se abrem de acordo com o peso da pessoa? 

Aqui na Bahia, na semana passada, tivemos uma emergência e passei uma noite acompanhando meu esposo no hospital, que se contorcia com cálculos renais. Chegamos no início da madrugada. Medicado, com a dor amenizada, ele dormiu sem coberta ou travesseiro. Saímos sem diagnóstico, apenas com a solução momentânea para a dor, por volta das nove da manhã. Eu passei a noite em uma cadeira de plástico, simples, branca-encardida, sem apoio para os braços e ressecada pelo tempo. 

Minha coluna e nervo ciático me lembrarão dessa noite por algumas semanas. 

No Paraná, há mais de dois anos, meu pai e meu tio, ambos com mais ou perto dos sessenta anos, dormiram em cadeiras de plástico por dezessete noites seguidas, acompanhando minha avó que lutava contra a pneumonia que a levou à morte.

Aqui ou lá, em regiões do país tão distintas e distantes, em cidades governadas por políticos de partidos opostos, quem acompanha uma pessoa querida no hospital público da cidade dorme em cadeiras de plástico. Como se não bastasse a dor emocional, soma-se a dor física.

As cadeiras de plástico são terríveis em situações corriqueiras: nas reuniões de escola, na festa de aniversário, no culto ao qual você vai voluntariamente... Nos hospitais, elas não são apenas desconfortáveis, são cruéis e desumanas. São também um indício da insensatez do governante, pois, cadeiras de plástico adoecem a coluna e prejudicam o sono. Pessoas que não dormem e com as costas inflamadas ficam doentes e, uma vez doentes, voltam ao hospital como pacientes. Uma vez pacientes, geram gastos para o poder público.

É outubro novamente e não vi ninguém apresentar proposta para banir as cadeiras de plástico da sociedade, mas olho para @s candidat@s e penso quais deles passariam pelo mesmo que eu, quais recorreram ao SUS em caso de doença na família. Ao observar, entendo que os que passariam pela mesma situação serão os mais sensibilizados. Como diz Carolina Maria de Jesus, o Brasil precisa ser governado por alguém que tenha passado fome, pois a fome também é professora. 

Na hora de escolher a quem dará seu voto, escolha @ candidat@ mais humano, aquele que olha os detalhes, que vê para além dos números, que sabe que as cadeiras de plástico não comportam as nossas dores e nossos corpos.

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