sábado, 14 de abril de 2012

Parafraseando

Diante de tanta falta de gentileza e argumentos, só posso dizer:
Os rudes que me perdoem, mas boa educação é fundamental.

domingo, 8 de abril de 2012

A cidadã ilustre nos chama de burros

Não sou iratiense, mas voto aqui, trabalho nesta cidade e gasto no comércio daqui, influenciando com minha ínfima parcela o crescimento do comércio local. Faço trabalho voluntário e participo da política. Sou cidadã, assim como outros milhares de brasileiros. Contudo, eu e outras pessoas fomos chamados de burros por exercermos nosso papel enquanto atores sociais que somos.
Isso mesmo, burros. Assim fomos classificados por questionarmos um investimento de R$ 4 milhões em algo que não está sendo utilizado, que ainda depende de investimento de outros R$ 6,5 milhões para ser finalizado. E quem nos elogiou desta forma foi Denise Stoklos, a ilustre artista que nasceu em Irati.
Todos os dias quando vou trabalhar e quando gasto meu dinheiro, boa parte dele é revertido em impostos. Recebo menos do que o combinado devido aos descontos e pago mais do que devo devido aos acréscimos. E é seguindo esta lógica que cada cidadão brasileiro abastece os cofres públicos. Convenhamos, se é tudo descontado do meu bolso, sou também dona deste dinheiro. Portanto, tenho o direito e o dever de sugerir, questionar e acompanhar os investimentos que são feitos com ele.
O questionamento foi direcionado ao posicionamento político do Governo com relação ao Centro Cultural, à falta de vontade de concluir a obra. Ninguém questionou a autoridade da homenageada quando o assunto é teatro nem a homenagem a ela, que dá nome ao local. A obra iniciou em 2007 e desde então consumiu os R$ 4 milhões que já estavam orçados para sua edificação e há mais de um ano está com as obras paradas porque o dinheiro acabou e o novo Governo do Estado prefere investir em outras áreas.
“Pulgueiros”, assim são chamados por Denise Stoklos os locais onde são realizadas atividades culturais em Irati. Realmente, não são ideais. Contudo, já assisti a peças na Broadway, com produções milionárias, e também vi artistas de rua que, mesmo sem um teto para se apresentarem, fizeram emocionar corações e alimentaram as almas de sua plateia que não paga entrada, eles é que pedem licença. Ou seja, eu e as outras pessoas que reclamamos não somos ignorantes, como fomos chamados, que não valorizam a cultura e seus equipamentos, mas fazemos parte do cotidiano da cidade e a vemos com outros olhos.
É preciso alimentar o corpo para que se possa, então, inflar o espírito com as artes. Nos postos de saúde de Irati não há médicos todos os dias. Na Secretaria de Saúde é preciso esperar dias para se fazer um exame dos mais simples, como o de urina. Faltam vagas para crianças em creches. Os professores das escolas estaduais precisam ensinar em salas de aulas superlotadas, sem conseguir dar atenção suficiente a cada um dos seus pupilos. Os políticos da cidade quando vão pedir verbas aos seus superiores falam com pesar e utilizando isso como argumento, que o município tem um dos piores IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) do país. De acordo com o Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento econômico e social), a renda per capita do iratiense é de R$ 213,04. Esse dinheiro é suficiente para investir em que?
Quando se falou que talvez o espaço não tenha público suficiente, a atriz argumentou que certamente há em Irati 500 pessoas de espírito humano elevado que apreciam teatro. Deve haver sim na cidade 500 pessoas que gostem de teatro, eu sou uma delas. Mas, é preciso ter a consciência de que o município tem 55.882 habitantes, conforme o censo de 2010. Creio que R$ 10,5 milhões gastos com um espaço que beneficiará 500 iratienses amantes do teatro é também muito significativo para os outros 55.382 moradores daqui, que talvez sejam também seres de espírito elevado.
Se o espaço já estivesse em uso, a situação seria diferente, o investimento não estaria perdido. Poderia trazer progresso, oferecer cursos, movimentar a cidade, gerar alguma renda. Contudo, a cada dia ele se estraga e quando finalmente vierem as obras de finalização, muito do que já foi feito precisará ser refeito. E lá se vai mais dinheiro do povo. Povo que, em sua maioria, não terá como bancar o ingresso para ver os grandes espetáculos que, ao que tudo indica, ocuparão os palcos.
Denise Stoklos é ilustríssima, isso é inegável. Contudo, em minha opinião, a rainha que ofende os súditos perde a realeza. Não acho certo chamar ninguém de burro, mas se a burrice existe, certamente ela está nas pessoas que não sabem discutir sem ofender e aceitar que cada um tem ideias e necessidades diferentes. O debate é saudável e faz parte da democracia.
As políticas elitistas beneficiam uma pequena parcela da população, as pulgas ficam mesmo de fora dos cachorros bem cuidados dos pet shops. O "desenvolvimento do espírito humano" começa com a dignidade humana, com atendimento de qualidade na área de saúde e educação, com a oferta de empregos para que os trabalhadores possam sair dos seus "pulgueiros" e buscar novas alternativas.
Dinheiro público é dinheiro público. Cada um defende o seu. O dinheiro público é nosso, é de todo mundo que trabalha e compra, que mesmo sem querer paga impostos. Cada um de nós contribui na sua arrecadação. Por isso temos o direito e a obrigação de cobrar. E se algum famoso não gostar, o azar é dele. Quem está cotidianamente na cidade é que sabe quanto custam milhões investidos em obras paradas quando há muito a ser feito.