segunda-feira, 20 de julho de 2009

Um anjo

Na minha rua havia um vizinho cuja casa, por toda a minha infância, foi a mais bonita de todas. Naquela época eu nem morava aqui ainda, mas sabia que ele era o morador mais rico do bairro dos meus avós. A casa dele era a única com piscina e durante muitos verões passados na cidade eu ouvia os primos falando sobre banhos sorrateiros de piscina quando a família rica viajava.


Mesmo sendo o mais abastado de todos, o homem cujo nome me lembrava Faraó (e é assim que vou chamá-lo no texto) não era o mais feliz. A esposa dele, diziam as vizinhas nas rodas de conversa, era uma praga. A mulher era antipática e não deixava nem que as carolas da vizinhança rezassem novenas de Natal na casa dela. A mulherada nunca soube o que havia por trás daquelas janelas sempre fechadas.


Seu Faraó era o contrário da esposa. Sempre muito simpático, corria todas as manhãs para manter a forma e por onde passava cumprimentava as pessoas alegremente. Ninguém entendia como aquele casamento entre opostos se mantinha por tantos anos.


Até que um dia a velha morreu. Eu, como pobre que sou, nunca conheci alguém que tivesse sido cremado. Pois bem, a velha foi. E eu nem posso dizer que a conhecia, pois só a via saindo e entrando em casa nos carros de luxo. Enfim, o estranho de tudo isso é que o homem, em vez de espalhar as cinzas em algum lugar, a colocou numa urna. Uma urna em forma de anjo.


Acho que o Seu Faraó resolveu viver a vida ao lado da amada depois que ela deixou de falar e o atormentar. Por algum tempo, ele a levava à missa, viajava com ela e andava com o anjo no banco da frente do carro. Dizem até que a levava ao mercado, mas isso eu nunca vi. Até na própria missa de sétimo dia a mulher foi levada...


Depois de alguns meses, o velho trocou o anjo cinzento por uma morena cheia de vida. Hoje eles têm um filho. A morena corre com ele todas as manhãs, cumprimentando a vizinhança e garantindo que o marido não se empolgue ao avistar alguma velha conhecida. O casal mudou-se para uma casa menos suntuosa e hoje as filhas da antiga dona brigam pela herança. Alguns Natais se passaram e sem uma proprietária à qual pudessem recorrer, nenhuma novena foi realizada lá e as vizinhas até hoje não sabem o que há dentro daquelas paredes.


Eu acho tanta graça nesta história. Sei que ela não é tão divertida, mas, às vezes, quando penso no anjo indo à missa com todas aquelas pessoas que ela sempre desprezou, chego a chorar de tanto rir.

7 fizeram a Carol feliz...:

Maris Morgenstern disse...

deve ser o tal carma.
arebaguandi

Regina disse...

De fato mto divertida!!! que figura essa, andando com a urna em formato de anjo por todas as partes... Adorei a forma como vc contou este "causo"!!!

Neto Verneque disse...

engracaaada engracaaaada nao é
mas eh bom ver q td terminou bem, com um humorzinho sutil a lá comédias romanticas
^^
hehe

Daniella Dal'Comune disse...

entao eh verdade?
rs
bjos.
brigada pel ultima visita

Carolina Filipaki disse...

Yes, babe!
É verdade!
Para vc ver que há neste mundo pessoas mais loucas do que a gente!

Carolina Filipaki disse...

Yes, babe!
É verdade!
Para vc ver que há neste mundo pessoas mais loucas do que a gente!

Gustavo disse...

Belíssima história. Você escreve muito bem.

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