Eu, Carolina Filipaki, me encontrando no meu perfeito juízo e entendimento (há quem discorde), coagida pela Damaris que me citou em seu testamento virtual e por isso tive que fazer o meu, testemunho minha última vontade, pedindo à Justiça de meu país que o faça cumprir.
Espero que quando eu morra, o bem mais valioso que eu deixe na terra seja a saudade.
Para a Damaris deixo os meus diários. Eu nunca imaginei alguém os lendo. Mas ela entende tanto os meus textos que poderia compartilhar com ela meus amores não vividos, as lágrimas que chorei e poesias que arrisquei. Veja bem o que fará com eles! Deixo também a ela as cartas que recebi ao longo da vida e ainda tenho guardadas. Não trazem notícias extraordinárias, nem mesmo declarações de amor, mas fazem parte do meu tesouro sem valor.
Para as meninas da Eli deixo minhas bonecas e ursos. Só a Talassa e a Lilith não dou a ninguém. Ficarão para sempre enfeitando a minha cama. A boneca pequenininha com o rosto cor-de-rosa de tanta maquiagem gostaria de dar à madrinha, pois foi ela quem me deu num Natal chuvoso, quando ainda morávamos na mesma rua.
Para o meu afilhado deixo minha bike. É cor-de-rosa, eu sei. Mas basta pintar. Eu a adoro e sei que poderá se divertir com ela.
O laptop fica com meu pai. Meus perfumes com a mãe. Os sapatos vão para quem precisar. As roupas também. Aproveito para lembrar que quero ser enterrada de pijama, de meia e descalça. Se possível, coberta com a minha mantinha vermelha. Não há no mundo roupa que eu mais goste.
Os dólares e dinheiro da Tailândia e Itália que estão na minha carteira também ficam com o pai. Só não garanto que lhe tragam sorte, pois às vezes eles são tudo o que tenho na minha carteira.
Os meus sonhos deixo a quem puder realizá-los. Entre outros, gostaria de conhecer a Austrália, morar um tempo na Europa e saltar de paraquedas.
Os meus livros deixo para quem quiser ler, só peço que os tratem bem. ‘A vida sexual da mulher feia’ eu gostaria que fosse queimado. Não tenho coragem para fazê-lo, mas ele é muito ruim, não merece ser lido. Se puder levar um livro comigo gostaria que fosse ‘A vida que ninguém vê’, pois a autora é a jornalista que eu sempre sonhei em ser.
Meus brincos, colares e bijus ficam com a Andressa. Dos que ela não gostar, ela que se vire em se livrar. Ela também deve escolher para quem dar meus cachecóis e lenços. A bolsa de elefantinho deve ficar com com ela e pode até escolher mais alguma que goste.
Meu amor-amizade deixo a muitas pessoas. À Mari, a primeira amiga da qual eu tenho recordação. Pam, Jana, Dani Dalcomune, Damaris, Michele Mitsue, Ligia, Simon Lee, Maria Raquelly, Nilce, Tati, Diangela, Osman, Diego, Elediane, Leandrinho, Fábio... A lista é imensa e o sentimento é infinito por cada um que faz parte dela.
Para E. deixo o meu amor-intelectual. É com ele que gosto de conversar. Talvez deixe também alguns livros. Para C. deixo o meu amor-desejo, que me arrepia só de pensar. Para A., deixo um amor-olho-no-olho, como aquele da fotografia, que eu desejava que fosse mais duradouro.
Já que publiquei meu testamento antes da morte, faço um pedido a Deus. Se o Senhor lê mesmo pensamentos sabe que ando pensando muito, inclusive sobre Você. E sei que a maior parte destes pensamentos não deve agradá-lo. Sei que dos 10 mandamentos, só não mato nem roubo, porém, vou me arriscar num último pedido. Não me deixe morrer sem viver um grande amor. Mas eu não quero um amor unilateral, como estes que citei aí em cima. Quero ser amada. Quero alguém que pense em mim. Alguém que queira me agradar. Alguém que me faça surpresas e desperte em mim a mesma vontade. Um amor que seja aqueles três em um só.
Os outros bens - com tão pouco valor financeiro quanto os já citados - podem ser divididos entre aqueles que se interessarem. Se você admira algo que eu tenho, aproveite o momento e peça, afinal, enquanto eu viver, ainda há tempo para um adendo ao testamento.
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PS: Os citados no testamento devem escrever também o seu. Não me matem por isso, quem criou a regra foi a Damasius!
domingo, 17 de outubro de 2010
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